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ANÁLISE CAFEICULTURA
Brasil deve apostar na qualidade do café para oferecer diferencial a importadores
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos mais conhecidos
indicadores de competitividade setorial é a evolução da
participação no mercado.
Nos últimos dez anos, o
Brasil foi responsável por
33% do mercado mundial de
café, ante a média de 26% registrada nos anos 90.
Apesar da aparente melhora das oportunidades para o café brasileiro, uma parcela dos cafeicultores se mostra insatisfeita com seu desempenho no mercado.
Como entender essa contradição entre desempenho
competitivo do setor e o descontentamento do setor produtivo?
No caso do café brasileiro,
o principal foco da competitividade é o baixo custo. Nosso
país tem sido o líder na inovação tecnológica, com destaque para a mecanização da
lavoura, revertida em significativos ganhos de produtividade nos últimos anos.
Vale observar, entretanto,
que os lucros extraordinários
dos avanços da inovação são
quase imediatamente transmitidos aos preços, esvaindo-se no processo de imitação entre os produtores.
Uma vez implantada uma
tecnologia inovadora, a pressão da concorrência se encarrega de disseminar o novo
padrão competitivo.
Parcela dos produtores
brasileiros, particularmente
os que estão estabelecidos no
cerrado, se beneficia da baixa declividade do solo para
mecanizar suas lavouras.
Para parte da produção
brasileira, porém, localizada
em áreas montanhosas, a
mecanização é difícil, sendo
que o custo da mão de obra
nessas regiões chega a representar 60% do custo total.
Como o sucesso da competitividade brasileira se apoia
na vantagem de custo, essa
parcela significativa da produção de montanha se vê
diante de grandes desafios.
De um lado, o Brasil passou a contar com o crescimento de concorrentes como
o Vietnã e a Indonésia, que
possuem baixos custos de
produção, particularmente
com respeito à mão de obra.
De outro, o Brasil concorre
com produtores que criaram
ao longo dos anos atributos
especiais aos consumidores,
que permitem diferenciação
de preços.
Tendo em vista esse complexo contexto, o que fazer?
Apenas 10% das nossas
exportações são consideradas cafés especiais. Os produtores de montanha competem com foco nos custos
sem nenhuma diferenciação,
embora tenham condições
para isso.
São produtores, em sua
maioria familiares, que agregam renda à população local, produzem cafés com
possibilidade de alcançar os
mais altos níveis de qualidade e dentro de padrões ambientais muito mais rigorosos que nossos concorrentes.
Há, entretanto, necessidade de ações coletivas para isso. O que não podemos fazer
é continuar a vender atributos valiosos passíveis de diferenciação com foco em custo.
SYLVIA SAES é professora
do Departamento de Administração da
FEA-USP.
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