São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010

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ANÁLISE CUSTO DE VIDA

Oferta regular de alimentos deve pressionar menos a inflação

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os últimos números divulgados pelos diferentes índices de preços ao consumidor em junho mostram grande desaceleração, com números mostrando estabilidade ou mesmo deflação.
O principal responsável por esse comportamento é o mesmo responsável pela grande elevação desses índices entre o final de 2009 e os primeiros meses de 2010: o grupo alimentação.
Em uma perspectiva temporal maior, é interessante ver o que está acontecendo, tanto para entender o comportamento da inflação como um todo como para avaliar o provável cenário futuro dos preços dos alimentos.
Tomando o IPC-S da FGV como base, o índice acumulado nos primeiros seis meses de 2010 foi de 3,64%. Desse total, 41% foram decorrentes de itens do grupo alimentação, cujo peso para o índice é de cerca de 25,6%.
O principal motivo por trás dessa elevação do grupo alimentação está ligado aos problemas de oferta, por sua vez decorrentes do clima atípico do verão.
Em que pese uma pressão do lado da demanda decorrente do aumento da massa salarial, é fácil ver que esse não é o principal fator por trás do aumento dos preços dos alimentos, uma vez que o aumento não é disseminado entre os vários subgrupos.
Mesmo com a queda de preços nos dois últimos meses, o subgrupo hortaliças e legumes terminou o semestre com aumento de 11% (tendo chegado a 28% em abril), sendo responsável por mais de 10% do total acumulado do IPC-S no período.
Por outro lado, o grupo aves e ovos praticamente não teve variações de preço ao longo do primeiro semestre, terminando com aumento acumulado de apenas 0,4%.
Outros exemplos incluem o feijão, que teve aumento de 69,6% nos primeiros seis meses de 2010 (tendo chegado a 71,6% em maio), contrastando com o pão francês, acumulando aumento de apenas 2,2% no mesmo período.
Tais disparidades não podem ser explicadas por um contexto geral de maior demanda, mas sim por problemas específicos de oferta, principalmente em itens perecíveis que não podem ter preços regulados por estoques, e que foram afetados pelo excesso de chuvas em algumas regiões, e pela seca em outras (como no caso do leite) no mesmo período.
Assim, o comportamento recente de queda nos preços dos itens que justamente tiveram maiores elevações pode ser entendido dentro do contexto de um movimento de regularização da oferta.
A continuarem as condições climáticas mais favoráveis, esse movimento deve prosseguir nas próximas semanas, recompondo os valores reais de equilíbrio de mercado para esses itens. Nesse cenário, o movimento dos preços dos alimentos deve então refletir o aumento da demanda decorrente da expansão da massa salarial, certamente abaixo dos níveis observados no início de 2010.

PAULO PICCHETTI é coordenador do IPC-S/FGV e professor da EESP/FGV.


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