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ANÁLISE CUSTO DE VIDA
Oferta regular de alimentos deve pressionar menos a inflação
PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os últimos números divulgados pelos diferentes índices de preços ao consumidor
em junho mostram grande
desaceleração, com números
mostrando estabilidade ou
mesmo deflação.
O principal responsável
por esse comportamento é o
mesmo responsável pela
grande elevação desses índices entre o final de 2009 e os
primeiros meses de 2010: o
grupo alimentação.
Em uma perspectiva temporal maior, é interessante
ver o que está acontecendo,
tanto para entender o comportamento da inflação como um todo como para avaliar o provável cenário futuro
dos preços dos alimentos.
Tomando o IPC-S da FGV
como base, o índice acumulado nos primeiros seis meses de 2010 foi de 3,64%.
Desse total, 41% foram decorrentes de itens do grupo
alimentação, cujo peso para
o índice é de cerca de 25,6%.
O principal motivo por trás
dessa elevação do grupo alimentação está ligado aos
problemas de oferta, por sua
vez decorrentes do clima atípico do verão.
Em que pese uma pressão
do lado da demanda decorrente do aumento da massa
salarial, é fácil ver que esse
não é o principal fator por
trás do aumento dos preços
dos alimentos, uma vez que o
aumento não é disseminado
entre os vários subgrupos.
Mesmo com a queda de
preços nos dois últimos meses, o subgrupo hortaliças e
legumes terminou o semestre com aumento de 11% (tendo chegado a 28% em abril),
sendo responsável por mais
de 10% do total acumulado
do IPC-S no período.
Por outro lado, o grupo
aves e ovos praticamente não
teve variações de preço ao
longo do primeiro semestre,
terminando com aumento
acumulado de apenas 0,4%.
Outros exemplos incluem
o feijão, que teve aumento de
69,6% nos primeiros seis meses de 2010 (tendo chegado a
71,6% em maio), contrastando com o pão francês, acumulando aumento de apenas
2,2% no mesmo período.
Tais disparidades não podem ser explicadas por um
contexto geral de maior demanda, mas sim por problemas específicos de oferta,
principalmente em itens perecíveis que não podem ter
preços regulados por estoques, e que foram afetados
pelo excesso de chuvas em
algumas regiões, e pela seca
em outras (como no caso do
leite) no mesmo período.
Assim, o comportamento
recente de queda nos preços
dos itens que justamente tiveram maiores elevações pode ser entendido dentro do
contexto de um movimento
de regularização da oferta.
A continuarem as condições climáticas mais favoráveis, esse movimento deve
prosseguir nas próximas semanas, recompondo os valores reais de equilíbrio de mercado para esses itens.
Nesse cenário, o movimento dos preços dos alimentos deve então refletir o
aumento da demanda decorrente da expansão da massa
salarial, certamente abaixo
dos níveis observados no início de 2010.
PAULO PICCHETTI é coordenador do
IPC-S/FGV e professor da EESP/FGV.
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