São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2011

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Supérfluo se defende em meio à crise econômica

Esse tipo de gasto é raro ponto positivo para o consumo europeu

Pessoas compensam nos produtos de uso cotidiano os hábitos mais luxuosos que tiveram de abandonar

LOUISE LUCAS
DO "FINANCIAL TIMES"

Na Grécia devastada pela crise, as vendas de sorvetes estão em alta. Os britânicos, apesar da queda em sua renda disponível, estão consumindo cada vez mais chocolate -12% no caso da M&M, em 2010, de acordo com dados da Euromonitor. Em uma era de austeridade, o consumo de supérfluos está de volta. O consumidor, de acordo com a companhia de pesquisa e análise de mercado, reduziu seus gastos com jantares e cinema, e também com viagens de férias.
Cerca de 63% dos americanos diminuíram seus gastos com noitadas, e o mesmo se aplica a 56% dos italianos. Mas, em lugar de comerem macarrão instantâneo ou torradas com feijão, ficar em casa para muitos deles quer dizer cozinhar com ingredientes sofisticados, que ainda assim custam menos que uma salada em um restaurante.
A tendência ajudou a elevar as vendas europeias de um caldo Knorr, da Unilever, recentemente lançado em cerca de € 100 milhões. Os gastos com supérfluos são um dos raros pontos positivos no setor de bens de consumo, que viu redução nos resultados à medida que caía o crescimento econômico nos países desenvolvidos.

EMERGENTES
Mesmo os mercados emergentes de alto crescimento estão perdendo parte de seu ímpeto, já que os orçamentos dos consumidores vêm sendo prejudicados pela inflação no preço dos alimentos e pelos custos mais altos de serviço de dívidas. O grupo Danone, de lácteos e água mineral, destacou a mudança ao anunciar seus resultados, em julho.
"Os supérfluos contribuíram com grande crescimento no setor de laticínios, no primeiro semestre, e reconhecemos a tendência", disse Emmanuel Faber, copresidente-executivo da empresa.
Os supérfluos cobrem um amplo espectro de produtos. Para uma dona de casa de Mumbai que vive com US$ 3 ao dia, um chocolate Nestlé Rp1 se enquadra nessa categoria; para o executivo financeiro de Xangai ou Nova York, o equivalente pode ser uma garrafa do uísque Royal Salute, que custa US$ 200 mil, lançada no mês passado pela Chivas Brother.
O Rp1 é vendido em um display especial nas pequenas lojas indianas, a fim de prevenir roubos. Já o uísque, de 45 anos, vem em garrafas pretas de porcelana pura, cravejadas de pedras e metais preciosos, e a compra só acontece por meio de inscrição prévia.
Mas os chocolates Rp1 atraem consumidores para a vasta linha de produtos da Nestlé. O domicílio indiano com renda diária de US$ 5, hoje, pode se tornar um domicílio com renda de US$ 15 amanhã e avançar para o consumo de chocolates mais caros, no caminho para produtos ainda mais dispendiosos.

MARCAS ESPECIAIS
Em outro setor, marcas especiais de bebidas estão beneficiando os fabricantes. Cervejas premium respondem por 31% do mercado britânico total, hoje, ante 24% uma década atrás. As pessoas compensam nos produtos de uso cotidiano o consumo mais luxuoso que tiveram de abandonar. Isso explica a alta nas vendas dos xampus mais caros vendidos pela Unilever.
"As mulheres estão indo menos ao cabeleireiro", diz Paul Pohlman, presidente-executivo da Unilever. "Com isso, economizam US$ 80." E uma pequena porção dessa economia permite trocar de xampu e comprar um produto mais caro.
James Russo, vice-presidente de tendências mundiais da Nielsen, diz que a tendência ao consumo de supérfluos veio para ficar.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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