São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Petrobras: uma operação de alto risco


Existe grande incerteza sobre o valor da ação da Petrobras às vésperas de seu aumento de capital

A PETROBRAS vai aumentar seu capital em US$ 70 bilhões, mediante subscrição pública de ações. Os recursos obtidos serão usados para levar adiante um programa de investimentos da ordem de US$ 220 bilhões. Para viabilizar a participação do Estado nessa operação, foi montada a venda de 5 bilhões de barris de petróleo à Petrobras. Eles fazem parte de uma reserva já identificada na região chamada de pré-sal.
A venda desse petróleo vai gerar para o Tesouro um crédito de mais de US$ 40 bilhões com a Petrobras.
Ele será usado então para pagar pelas novas ações a que o Estado tem direito por ser acionista da empresa.
Os demais acionistas -no Brasil e no exterior- terão que pagar em dinheiro para subscrever sua parcela no novo capital.
Vista dessa forma, a operação faz total sentido tanto do ponto de vista do governo como da Petrobras e dos acionistas minoritários privados.
O Tesouro trocará um bem etéreo -petróleo abaixo da terra- por um ativo real, que são as ações da Petrobras. Já o governo -que não se deve confundir com o Tesouro- poderá levar adiante um projeto ambicioso de explorar um gigantesco campo de petróleo com implicações importantes sobre o desenvolvimento do país nos próximos anos.
A Petrobras ganhará -sem desembolsar um tostão- o direito sobre novas reservas de petróleo com um potencial muito grande para fazer crescer seus lucros.
Finalmente, o acionista minoritário terá sua parte nos ganhos, via principalmente a valorização de suas ações negociadas nas Bolsas de Valores pelo mundo afora.
O leitor da Folha deve pensar que estou descrevendo uma verdadeira corrente da felicidade, em que todas as partes ganham com uma operação aparentemente simples.
Mas, infelizmente, o Diabo esconde-se nos detalhes de qualquer trama humana. Nesse caso, a questão mais importante está relacionada com as incertezas que cercam a definição do valor econômico desse petróleo que vai ser negociado.
Se ele estivesse localizado em áreas similares às que já são exploradas no mar pela Petrobras, seria possível fazer isso com segurança.
Mas, escondido nas profundezas de uma camada de sal de mais de 5.000 metros, essa tarefa é praticamente impossível. Tanto que duas empresas internacionais chegaram a números completamente distintos: US$ 5 uma e até US$ 12 a outra.
Mesmo esses valores, tão díspares, podem ser alterados na medida em que a exploração se desenvolva e informações mais seguras sobre o custo de extração sejam conhecidas. Em outras palavras, somente dentro de cinco anos ou mais é que teremos elementos para dizer se o valor arbitrado pelo governo, de US$ 8,51 por barril, foi correto ou não.
Se o custo real de extração for maior do que o estimado hoje, ganha o Tesouro e perdem os acionistas da Petrobras. Nesse caso, o Tesouro, que detém pouco mais de 30% do capital da empresa, devolverá parte dos ganhos obtidos com a venda do petróleo a preços superfaturados. Mas, mesmo assim, será um ganhador líquido.
Já no caso oposto -custo real de extração menor do que o estimado hoje- o Tesouro será o grande perdedor, pois vendeu seu petróleo a preços inferiores -talvez até a preço de banana, como dizem alguns- ao que poderia obter se tivesse realizado a venda com mais cautela e sem a pressa de hoje.
A Petrobras não tem necessidade de receber todo esse dinheiro de uma vez, e a venda poderia ser feita quando se tivesse segurança maior sobre seu real valor.
Outra variável decisiva para uma avaliação da operação será o preço futuro do petróleo. Se ele for maior do que o atual -já chegou a mais de US$ 150 por barril- será impossível esconder o sentimento de que o governo fez um mau negócio. Se for mais baixo, o sentimento amargo vai ficar com os acionistas da Petrobras.
Por todas essas incógnitas e dúvidas é que existe uma grande incerteza no mercado sobre o valor de uma ação da Petrobras às vésperas de seu aumento de capital.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas, quinzenalmente, nesta coluna.

lcmb2@terra.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Roberto Rodrigues


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