São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Discussão sobre câmbio é nova, mas com roteiro velho

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

Os EUA acusam a China de desvalorizar sua moeda, o yuan, e inundar mercados alheios ao invés de promover o consumo interno. A China acusa os EUA de não regularem nem pouparem, retardando a retomada da maior economia do mundo.
Nas notas de rodapé das acusações sobre os desequilíbrios globais, Pequim admite que o yuan tem de subir e os EUA reconhecem que precisam de ajustes. Mas para ambos sua parcela de culpa é menor, uma reação ao erro alheio. Clamam que só mudam se o outro mudar antes.
Para desfazer o impasse, alguém tem de ceder -e o debate na reunião anual do FMI focou eventual acordo global sobre o câmbio, talvez condicionado a medidas fiscais.
Mas tem mesmo?
A julgar por outros fóruns globais que envolvam grandes mudanças (como a Rodada Doha para liberalizar o comércio ou a tentativa de frear o aquecimento global na Conferência do Clima), não.
O par de antagonistas é semelhante, assim como são a pouca vontade de arredar o pé de suas posições e a prontidão em jogar culpa no outro. Em torno disso, os demais países se alinham segundo interesses comuns -o Brasil pende aos chineses, embora não se coloque em confronto com os americanos.
Na discussão sobre um eventual acordo cambial, pesa ainda o fato de que ninguém -talvez os EUA, a julgar pelo discurso de Tim Geithner - ache que o FMI, em busca de um meio de se reinventar, seja o fórum mais adequado. É preciso então achar outro (o G20 é o mais eficaz para a discussão, mas precisa de algo mais na instrumentalização).
O debate é importante e bem-vindo. Mas, para citar o presidente do Banco Central brasileiro, é pouco provável que ele se converta em ação no médio prazo. No fim, resulta um acordo aguado, uma sombra dos objetivos que deram início à discussão.
Além disso, por válido que seja o debate cambial, ele não pode obscurecer a discussão sobre reformas no sistema financeiro global e de cada pais, muito menos tirar o foco das reformas estruturais necessárias para amenizar os efeitos da crise mais recente e evitar que outra similar ou pior ocorra.
O FMI insiste que a situação só pode ser resolvida de forma cooperativa, o que é tão verdadeiro quanto é uma platitude. Se o discurso se mantiver assim no comunicado final do G-20, no mês que vem, tudo que teremos será um disco quebrado a dizer que correções são necessárias. Mais um.


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