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ANÁLISE
Discussão sobre câmbio é nova, mas com roteiro velho
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
Os EUA acusam a China de
desvalorizar sua moeda, o
yuan, e inundar mercados
alheios ao invés de promover
o consumo interno. A China
acusa os EUA de não regularem nem pouparem, retardando a retomada da maior
economia do mundo.
Nas notas de rodapé das
acusações sobre os desequilíbrios globais, Pequim admite que o yuan tem de subir e
os EUA reconhecem que precisam de ajustes. Mas para
ambos sua parcela de culpa é
menor, uma reação ao erro
alheio. Clamam que só mudam se o outro mudar antes.
Para desfazer o impasse,
alguém tem de ceder -e o debate na reunião anual do FMI
focou eventual acordo global
sobre o câmbio, talvez condicionado a medidas fiscais.
Mas tem mesmo?
A julgar por outros fóruns
globais que envolvam grandes mudanças (como a Rodada Doha para liberalizar o comércio ou a tentativa de frear
o aquecimento global na
Conferência do Clima), não.
O par de antagonistas é semelhante, assim como são a
pouca vontade de arredar o
pé de suas posições e a prontidão em jogar culpa no outro. Em torno disso, os demais países se alinham segundo interesses comuns -o
Brasil pende aos chineses,
embora não se coloque em
confronto com os americanos.
Na discussão sobre um
eventual acordo cambial, pesa ainda o fato de que ninguém -talvez os EUA, a julgar pelo discurso de Tim
Geithner - ache que o FMI,
em busca de um meio de se
reinventar, seja o fórum mais
adequado. É preciso então
achar outro (o G20 é o mais
eficaz para a discussão, mas
precisa de algo mais na instrumentalização).
O debate é importante e
bem-vindo. Mas, para citar o
presidente do Banco Central
brasileiro, é pouco provável
que ele se converta em ação
no médio prazo. No fim, resulta um acordo aguado,
uma sombra dos objetivos
que deram início à discussão.
Além disso, por válido que
seja o debate cambial, ele
não pode obscurecer a discussão sobre reformas no sistema financeiro global e de
cada pais, muito menos tirar
o foco das reformas estruturais necessárias para amenizar os efeitos da crise mais recente e evitar que outra similar ou pior ocorra.
O FMI insiste que a situação só pode ser resolvida de
forma cooperativa, o que é
tão verdadeiro quanto é uma
platitude. Se o discurso se
mantiver assim no comunicado final do G-20, no mês
que vem, tudo que teremos
será um disco quebrado a dizer que correções são necessárias. Mais um.
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