São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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Buenos Aires barata? Ela ficou para trás

Inflação argentina de 25% ao ano e desaceleração da economia brasileira diminuem poder de compra de turistas

Elevação dos preços em outlets e restaurantes começa a assustar; pechinchas escasseiam para os visitantes

João Pina - 15.mai.08/"The New York Times"
Vista do parque Las Heras, em Buenos Aires; gastos estão em alta na capital da Argentina

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO

DE BUENOS AIRES

A Buenos Aires barata e muito atrativa para os bolsos brasileiros não existe mais.
Os sinais de desaceleração na economia brasileira e o galopante índice de inflação na Argentina têm afetado o consumo dos turistas brasileiros na capital mais europeia da América Latina. Segundo o índice oficial, a inflação é de 10%, enquanto segundo estimativas de consultorias privadas chega a 25%.
Dos outlets da avenida Córdoba aos restaurantes e cafés tradicionais, a alta dos preços já começa a assustar.
"Algumas coisas ainda compensam, mas nem tudo é uma pechincha", disse o construtor paulista José Zuanazi Filho, 52, que na semana passada passeava pelos outlets pela primeira vez.
Na região concentram-se várias lojas e butiques de marcas de renome e é ponto quase obrigatório para todo brasileiro que visita a cidade. Tornou-se comum entre os argentinos identificar um brasileiro pelo número de sacolas que carrega.
"As vendas caíram, e caíram repentinamente", diz Orlando Pérez, gerente de uma loja da Timberland na região.
Segundo ele, de janeiro a julho os brasileiros respondiam por 70% das vendas. Em agosto o índice caiu a 50%.
Com o descontrole inflacionário, os preços dispararam. E não só dos alimentos. A Lacoste, uma das lojas mais visitadas por brasileiros, expõe os valores dos produtos em dólares -o câmbio está sendo controlado pelo governo argentino- e em pesos.
"Está caro, sim. Vim em 2009 comprar roupas e enchi a mala. Dessa vez estou pensando mais quando vejo os preços", diz Maria Sousa, 44, nas galerias Pacífico, outro point dos brasileiros.

ALERTA
Para o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb, ainda é cedo para falar em "breque no consumo", mas ele concorda que há um alerta muito grande. "A inflação atinge setores como vestuário e alimentação, afetando, claro, o turismo", diz.
Apesar do cenário, números do governo argentino mostram que os brasileiros ainda são maioria entre os turistas estrangeiros, superando, juntos, a soma de europeus e americanos.
Detalhe: o brasileiro, apesar de permanecer menos tempo no país, gasta por dia uma média de US$ 208, muito superior aos US$ 61 dos europeus e aos US$ 71 dos americanos -estes ficam, em média, mais de 20 dias no país.
Maria José, 61, turista de Alagoas, fazia compras na semana passada no Pátio Bullrich, um dos mais caros e charmosos shoppings de Buenos Aires, no bairro da Recoleta. "Não é mais caro que o shopping Iguatemi de São Paulo, por exemplo. E existe a vantagem de que as coisas daqui duram mais, coisas de lã e couro, principalmente", afirma.
A Câmara Argentina de Comércio diz que ainda não tem números sobre o consumo. Mas a situação parece não frear o turismo dos brasileiros.
Muitos encontram novas formas de tentar aproveitar a cidade. É cada vez mais comum ver brasileiros nos supermercados locais, principalmente naqueles próximos às regiões que concentram mais hotéis. Ali, compram comida para comer no quarto, evitando restaurantes.


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