São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2011

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ANÁLISE CONTRATOS

Fundos e dólar devem ser monitorados no mercado da soja

FERNANDO MURARO JR
ESPECIAL PARA A FOLHA

A soja e a maior parte das commodities sofreram grande pressão em setembro. Os contratos da oleaginosa com vencimento em novembro próximo caíram 19,1% na Bolsa de Chicago, enquanto os do milho para entrega em dezembro recuaram 22,8%.
Num primeiro momento, e pelo ponto de vista da análise fundamental de mercado, o que explicava as perdas da soja era a chegada da colheita norte-americana.
Mesmo com produção de apenas 84 milhões de toneladas, ante 90,6 milhões em 2010, e mesmo mantendo-se o cenário de estoques apertados nos EUA, a entrada de produto novo pressionava as cotações. Mas, num segundo momento, quando se observa que a soja perdeu quase US$ 3 por bushel (27,2 kg) em um mês, percebe-se que fatores externos é que explicam queda tão rápida e intensa.
Trata-se da financeirização do mercado, fenômeno que vem tornando a análise da soja muito mais complexa e sofisticada. Essa financeirização é capitaneada pelos fundos de investimento que atuam nas Bolsas de mercadorias. Na soja, as mudanças nas posições compradas e vendidas dos fundos revelam de maneira quase cartesiana o comportamento dos preços do grão ao longo de 2011.
Na boca da colheita da safra brasileira 2010/11, em fevereiro, a soja se aproximava de US$ 14 por bushel em Chicago. Naquele momento, a posição dos fundos equivalia a cerca de 42 milhões de toneladas compradas em contratos futuros e de opções.
No fim de agosto, quando as cotações voltaram à casa dos US$ 14, a posição dos fundos estava lá em cima de novo (40 milhões de toneladas).
No início deste mês, com a forte queda das cotações, essa posição já havia caído para 19 milhões de toneladas, a menor desde junho de 2010. A posição dos fundos, portanto, é mais um indicador que deve ser monitorado, pois também serve como guia para a tendência dos preços.
Outra curiosidade é que durante grande parte dos oito primeiros meses do ano muitos fundos estavam aumentando suas posições compradas em commodities enquanto vendiam dólar. Em setembro, porém, enquanto as commodities desabavam, o dólar voltava a se valorizar.
Para os produtores brasileiros, o movimento inicial de queda das commodities e de alta do dólar rendeu negócios interessantes em reais.
Para 2012, começa a se desenhar um cenário mais complicado, já que a desvalorização das commodities está sendo maior que a do real.
Isso torna a lucratividade de 2012 menor do que a de 2011 para aqueles que não anteciparam a comercialização da nova safra.
Eis a face mais dura da sofisticação do mercado.

FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.


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