São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

cifras & letras

CRÍTICA DESIGUALDADE

Prêmio Nobel defende uma economia do bem-estar

Para Amartya Sen, distribuição de riqueza é estimulo ao desenvolvimento

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O indiano Amartya Sen, Nobel de Economia em 1998, preza sobretudo a liberdade.
Mas entende que a sociedade deve garantir igualdade de condições para que todos possam exercer a liberdade, escolhendo como desenvolver suas potencialidades.
O conceito permeia "As Pessoas em Primeiro Lugar°-A Ética do Desenvolvimento e os Problemas do Mundo Globalizado", coletânea de textos de Sen e do economista argentino Bernardo Kliksberg, assessor de órgãos como a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Uma resposta tanto aos que rejeitam o mercado quanto aos que acham que ele por si só tudo resolve, os artigos defendem que a distribuição justa dos recursos gerados na economia é um ativo, e não um entrave, ao desenvolvimento.
"O discurso econômico ortodoxo (...) deslocou da economia a discussão sobre os valores éticos, apresentando-a como mera questão tecnocrática", critica Kliksberg.
Crítico dos anos Menem -quando a alta renda per capita combinou-se a aumento do desemprego e da pobreza-, o argentino transplanta as ideias de Sen para análises sobre a América Latina.
"Se existe pobreza, é porque existe desigualdade", afirma, ressaltando os aspectos múltiplos do fenômeno -não é só a renda que é discrepante, mas o acesso à educação, à saúde, ao crédito, à tecnologia.

TEXTOS INDEPENDENTES
Os dois mostram que o crescimento não equivale necessariamente ao aumento do bem-estar social.
Num texto sobre a expectativa de vida, Sen mostra como, em 1992, as populações do Sri Lanka, da China e do Estado indiano de Kerala eram mais longevas do que as de Brasil, África do Sul e Gabão, que tinham renda per capita maior.
No Reino Unido a longevidade subiu e a subnutrição caiu em plena Segunda Guerra -provavelmente devido à distribuição de alimentos.
Os artigos, que podem ser lidos separadamente, vão além da economia estrita.
Sen trata a globalização como um fenômeno milenar de assimilações intercontinentais e toca num tema que lhe é caro -a rejeição das identidades rigidamente definidas por religião ou etnia.
"A confusão de globalização com ocidentalização não é somente a-histórica como também desvia a atenção dos muitos benefícios potenciais da integração global", diz.
Kliksberg analisa a criminalidade, o voluntariado e a importância da cultura para o desenvolvimento.
A educação e as ideias que circulam, afirma, ajudam a definir tanto o capital social -os valores compartilhados e a confiança entre diferentes setores numa sociedade- quanto as políticas adotadas.


AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR
AUTORES
Amartya Sen e Bernardo Kliksberg
TRADUÇÃO Bernardo Ajzemberg e Carlos Eduardo Lins da Silva
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 58 (408 págs.)



Texto Anterior: Cotações/Ontem
Próximo Texto: Crítica/Mercado Financeiro: Best-seller faz aposta certa em visionários desconhecidos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.