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cifras & letras
CRÍTICA DESIGUALDADE
Prêmio Nobel defende uma economia do bem-estar
Para Amartya Sen, distribuição de riqueza é estimulo ao desenvolvimento
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
O indiano Amartya Sen,
Nobel de Economia em 1998,
preza sobretudo a liberdade.
Mas entende que a sociedade deve garantir igualdade
de condições para que todos
possam exercer a liberdade,
escolhendo como desenvolver suas potencialidades.
O conceito permeia "As
Pessoas em Primeiro Lugar°-A Ética do Desenvolvimento
e os Problemas do Mundo
Globalizado", coletânea de
textos de Sen e do economista argentino Bernardo Kliksberg, assessor de órgãos como a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Uma resposta tanto aos
que rejeitam o mercado
quanto aos que acham que
ele por si só tudo resolve, os
artigos defendem que a distribuição justa dos recursos
gerados na economia é um
ativo, e não um entrave, ao
desenvolvimento.
"O discurso econômico ortodoxo (...) deslocou da economia a discussão sobre os
valores éticos, apresentando-a como mera questão tecnocrática", critica Kliksberg.
Crítico dos anos Menem
-quando a alta renda per capita combinou-se a aumento
do desemprego e da pobreza-, o argentino transplanta
as ideias de Sen para análises
sobre a América Latina.
"Se existe pobreza, é porque existe desigualdade",
afirma, ressaltando os aspectos múltiplos do fenômeno
-não é só a renda que é discrepante, mas o acesso à
educação, à saúde, ao crédito, à tecnologia.
TEXTOS INDEPENDENTES
Os dois mostram que o
crescimento não equivale necessariamente ao aumento
do bem-estar social.
Num texto sobre a expectativa de vida, Sen mostra como, em 1992, as populações
do Sri Lanka, da China e do
Estado indiano de Kerala
eram mais longevas do que
as de Brasil, África do Sul e
Gabão, que tinham renda per
capita maior.
No Reino Unido a longevidade subiu e a subnutrição
caiu em plena Segunda Guerra -provavelmente devido à
distribuição de alimentos.
Os artigos, que podem ser
lidos separadamente, vão
além da economia estrita.
Sen trata a globalização
como um fenômeno milenar
de assimilações intercontinentais e toca num tema que
lhe é caro -a rejeição das
identidades rigidamente definidas por religião ou etnia.
"A confusão de globalização com ocidentalização não
é somente a-histórica como
também desvia a atenção dos
muitos benefícios potenciais
da integração global", diz.
Kliksberg analisa a criminalidade, o voluntariado e a
importância da cultura para
o desenvolvimento.
A educação e as ideias que
circulam, afirma, ajudam a
definir tanto o capital social
-os valores compartilhados
e a confiança entre diferentes
setores numa sociedade-
quanto as políticas adotadas.
AS PESSOAS EM
PRIMEIRO LUGAR
AUTORES Amartya Sen
e Bernardo Kliksberg
TRADUÇÃO Bernardo Ajzemberg e
Carlos Eduardo Lins da Silva
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 58 (408 págs.)
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