São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Fazenda quer teto de 12% para juros

Para equipe do ministro Guido Mantega, desaceleração da economia se confirmou e taxa pode ficar em 11,5%

Mesmo acreditando em desaceleração, Fazenda aumentou sua previsão de crescimento para 2010, de 6,5% para 7%


Rodrigo Leal/Divulgação
Caminhões aguardam para fazer a classificação da carga no pátio do Porto de Paranaguá

VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

Na queda de braços sobre os rumos da política monetária dentro do governo, o Ministério da Fazenda avalia que sua previsão de desaceleração da economia se confirmou e que não há motivos para os juros do Banco Central ficarem acima de 12% no final do ano.
Apesar da desaceleração, a equipe do ministro Guido Mantega fará uma revisão da estimativa de crescimento neste ano, que pode passar dos atuais 6,5% para algo próximo de 7%. A do Banco Central hoje é de 7,3%. A nova previsão só será fechada com a volta do ministro a Brasília nesta semana.
A equipe de Mantega acredita que o Copom (Comitê de Política Monetária) poderia fazer apenas mais um aumento de juros em 2010, na reunião deste mês, e suspender o processo de ajuste na política monetária iniciado em abril último.
A expectativa no governo, porém, é de que o Copom acabe fazendo pelo menos mais um aumento na taxa de juros no encontro de setembro, durante o primeiro turno da eleição presidencial.
Deve adotar esse caminho mesmo no caso de os indicadores econômicos mostrarem que o ajuste na política monetária pode ser interrompido. Motivo: o BC sinalizou ao mercado que a alta dos juros seguiria no segundo semestre e, se fizer o contrário, pode perder credibilidade.
A equipe econômica espera, então, que os juros não passem de 11,5% até o final do ano. A taxa hoje está em 10,25%, depois de duas altas (abril e junho) de 0,75 ponto percentual. Em julho, o Copom pode promover mais um aumento em dose idêntica, o que levaria a taxa para 11%.
Para justificar suas avaliações, a equipe de Mantega cita uma série de indicadores divulgados recentemente que mostraram desaceleração da economia.
O IPCA de junho ficou em 0%, a taxa de desemprego registrou leve aumento em maio e o nível de utilização da capacidade instalada da indústria registrou uma pequena queda no mesmo mês.
Esses dados, segundo assessores de Mantega, mostram que o aumento da inflação até agora veio mais de choques sazonais em alguns setores, como açúcar, etanol e hortifrutigranjeiros, do que pressões de demanda.

AJUSTE CORRETO
Ninguém questiona, contudo, o BC por ter iniciado o ajuste na política monetária. Pelo contrário, dizem que ele está correto porque realmente há também pressões inflacionárias por conta do aumento no ritmo de crescimento da economia, que já desacelerou.
Esse ritmo de desaquecimento é o que leva a equipe econômica a avaliar que os juros podem ficar na casa dos 11,5%, enquanto no mercado a expectativa é de que fiquem em 12,13% no final do ano.
Cálculos do Ministério da Fazenda mostram que, se a previsão de crescimento econômico feita pelo BC se confirmar, a alta média trimestral ficará entre os percentuais de 0,8% e 1%, depois de bater em 2,7% nos três primeiros meses de 2010.
Ou seja, a confirmação dos 7,3% do BC indica uma redução no ritmo da economia, que pode fechar o ano com um crescimento numa velocidade entre 4,5% e 5% anualizados.
Apesar das avaliações divergentes dentro do governo, o presidente Lula e sua equipe econômica não querem fazer uma pressão ostensiva sobre o BC. Afinal, não desejam sinalizar ao mercado, em plena eleição, que pode haver uma interferência política na condução da política monetária.


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