São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011 |
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ANÁLISE PREÇOS Aumento dos alimentos tem componente especulativo JOSÉ VICENTE FERRAZ ESPECIAL PARA A FOLHA Depois de um ano em que os alimentos exerceram forte pressão inflacionária no Brasil e no mundo, parece oportuno entender as causas dessa elevação das cotações. Os preços dos alimentos no Brasil, que se destaca como um dos maiores ex- portadores, foram claramente influenciados por uma consistente elevação das cotações mundiais nos últimos cinco anos. Entre as principais commodities alimentícias -que por terem grande aplicação na alimentação animal acabam também influenciando os preços das proteínas animais-, a soja subiu quase 65%, e o milho, mais de 75% nesse período. O trigo e o arroz -relativamente menos utilizados na alimentação animal, mas mesmo assim com forte influência nos preços das proteínas animais devido ao efeito substituição- tiveram um aumento de preço de aproximadamente 65% e 85%, respectivamente, nos últimos cinco anos. Qual o motivo dessas fortes altas? Uma das explicações mais comuns seria o fato de a produção crescer a taxas inferiores ao consumo. As instabilidades climáticas estariam prejudicando fortemente a produção, enquanto o consumo, puxado por uma demanda crescente dos países emergentes -principalmente a China-, e o uso de commodities alimentícias como fontes energéticas -milho para etanol, soja para biodiesel- impulsionariam a demanda. Os dados disponibilizados pelo Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) desmentem categoricamente essa tese. A produção mundial de 3 das 4 principais commodities alimentícias (trigo, milho e soja) cresceu mais que o consumo nos últimos cinco anos. E a demanda e a produção da quarta commodity (arroz) cresceu de forma quase que absolutamente equilibrada. Outra tentativa de explicar a alta de preços seria a depreciação do dólar frente a outras principais moedas. Como o preço de referência dessas commodities é o dólar, o aumento de preços seria uma forma de corrigir essa depreciação. Mas, se o dólar depreciou-se nos últimos cinco anos em menos de 7%, como explicar altas de preços superiores a 60%? Parece haver um componente especulativo significativo, que encontraria justificativa no balanço de oferta e demanda -talvez apenas para a carne bovina e para o açúcar, entre as principais commodities alimentícias. Movimentos de preços que não encontram sustentação nos fundamentos de mercado (relação entre oferta e demanda) podem ser bruscamente revertidos, mas exatamente por não terem sustentação nos fundamentos de mercado é impossível prever quando isso ocorrerá. Até lá, as pressões infla- cionárias no Brasil e no mundo geradas pela evolução dos preços de alimentos deve continuar. JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro agrônomo e diretor técnico da AgraFNP. Texto Anterior: Produtores da Argentina param em protesto contra o governo Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Com queda em estoques, preço da soja dispara Índice | Comunicar Erros |
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