São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Cenário de incerteza leva commodities a nova turbulência

GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Num cenário mundial dominado por alto grau de incerteza como o atual, a reação dos agentes econômicos a qualquer evento, nem sempre relevante, tende a ser exagerada e, constatado o exagero, a ser revista logo.
Agora, o estresse, já alto devido à crise na União Europeia, cresceu ainda mais pela controvérsia política nos EUA quanto à dívida pública.
A questão acabou tendo encaminhamento parcial e não elucidativo, levando ao rebaixamento da nota de risco dos papéis do governo americano pela desgastada agência Standard & Poor's.
Desde então, as projeções de crescimento econômico vão sendo reduzidas, enquanto diminui a confiança na solvência de governos de vários países problemáticos.
Resultado: as Bolsas foram tomadas por forte turbulência, com tendência de queda. Os mercados de commodities também balançaram inicialmente para, a seguir, retomar maior firmeza, não estando afastadas novas recaídas.
É recomendável, nesta altura, focar menos os dias turbulentos que correm e mais os fundamentos de curto e médio prazos.
No caso do agronegócio, sabe-se que os prospectos de produção mundial -apesar dos percalços climáticos- são razoavelmente favoráveis. A demanda por alimentos deve seguir firme, apesar do crescimento pouco menor quase generalizado.
Os estoques de grãos estão relativamente baixos, como nos casos de soja, milho, açúcar e algodão. Liquidez mundial elevada e juros baixos deverão persistir por um bom tempo. Todas essas considerações levam à expectativa de que os preços das commodities agropecuárias deverão permanecer elevados.
Ainda assim, seria cabível esperar uma forte queda de preços em consequência da atual turbulência? A resposta é não, a menos que a crise vá em direção aos bancos.
Em 2008, os governos aumentaram suas dívidas para salvar empresas e bancos.
A crise atual é filha da anterior, na medida em que os governos ficaram com dívidas volumosas e de sustentabilidade duvidosa.
Provavelmente, a única saída seja repartir a conta com os bancos credores, por meio de reestruturações das dívidas.
À medida que essa perspectiva vai ficando mais concreta, os bancos, especialmente os europeus, são trazidos para o olho do furacão, como indicam as perdas que vêm sofrendo nas Bolsas.
Embora a maior transparência contábil atual ajude, não se pode descartar uma interrupção no fluxo de crédito como ocorreu em 2008, quando os bancos praticamente se fecharam uns aos outros, e o comércio de mercadorias entrou em colapso.
Ou seja, embora haja vendedores e compradores interessados, os negócios ficaram impossibilitados. Espera-se que isso não se repita.
Não há espaço para barbeiragem nas negociações entre governos e bancos, como ficou demonstrado pelo episódio da quebra do Lehman Brothers, que precipitou as consequências desastrosas que ainda enfrentamos.

GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.


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