São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2010

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FÁBIO BARBOSA

"Dar certo, fazendo a coisa certa"


A economia informal no país caiu de 21% do PIB em 2003 para 18,4% em 2009 sem inviabilizar setores


NO ARTIGO passado, destaquei nesta coluna a importância de termos uma Reforma de Valores, a partir da atitude de cada indivíduo. Mas vejo que, às vezes, paira ainda outra nuvem sobre o dia a dia da nossa sociedade: as empresas devem se restringir aos seus negócios ou devem ter um olhar mais amplo do seu papel na sociedade?
A favor da primeira tese, muitos se referem às palavras do grande economista Milton Friedman, que já na década de 60 dizia que "o negócio dos negócios são os negócios".
Um olhar preliminar indicaria a sugestão de que as empresas devem focar na sua atividade, deixando as preocupações sociais para o Estado. Ele não está errado, claro. Todavia, um olhar mais provocativo sobre esse conceito nos permitiria concluir que, na verdade, se quer dizer que "o negócio dos negócios são os negócios sustentáveis".
Heresia? Acho que não. Sabe-se que o "valor de mercado" de um negócio é calculado com base nas perspectivas futuras daquela atividade, trazido ao que se chama de "valor presente". Ou seja, a empresa precisa fazer hoje algo que poderá repetir amanhã e depois, levando em conta sempre as evoluções que o tempo traz ao mercado, como a criação de um ambiente cada vez mais transparente.
A isso podemos chamar de "negócios sustentáveis". No Brasil, criou-se a cultura de dizer que, para um negócio ter bons resultados, é preciso "dar um jeito" ou buscar um atalho, pois seria impossível ficar dentro das regras, das boas práticas, e, ainda assim, obter resultados positivos. Falso dilema!
Cada vez mais encontramos convergência entre as boas práticas socioambientais corporativas e a rentabilidade das empresas. Empresas que melhor pontuam em análises quanto à sua gestão socioambiental tendem a ser as mais rentáveis também. A lista das empresas indicadas por apresentarem os melhores ambientes para trabalhar também guarda relação próxima com a lista das mais rentáveis.
Muitos ainda resistem a esse conceito e, aproveitando o momento da recente crise, diziam que os conceitos de sustentabilidade seriam abandonados em busca da rentabilidade mais imediata. Miopia de quem ainda não entendeu a extensão do que está acontecendo.
Segundo estudos de uma consultoria americana (A.T. Kearney), as empresas-modelo nas práticas voltadas à sustentabilidade tiveram performance financeira melhor do que as demais, mesmo na crise (...ou sobretudo na crise?).
A razão é simples: economizar energia, reciclar materiais, valorizar as pessoas e a diversidade, formalizar as relações de trabalho, entre outros, trazem muitos benefícios que vão desde a redução de custo até um maior engajamento e produtividade dos funcionários, atingindo por fim a boa imagem com os clientes, com os fornecedores e também com o mercado de capitais.
Nesse quadro, vem em boa hora recente estudo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial e da FGV, mostrando que a participação da economia informal no Brasil caiu de 21% do PIB em 2003 para 18,4% em 2009. Ao que nos consta, não há notícias de que esse caminho tenha inviabilizado setores, ou causado grandes estragos na economia.
Isso porque não havia o tanto de obstáculos intransponíveis que se propagava. Muitos eram os tais "falsos dilemas" a que me referia acima, e que aos poucos foram sendo desmistificados. Vejo com otimismo essa trajetória que tende a se acelerar, até porque "economia informal" é uma leniência da nossa linguagem coloquial, pois na verdade, na maioria das vezes, trata-se de ato "ilegal", a ser combatido.
Qual a conclusão disso tudo? Precisamos acreditar que "é possível dar certo fazendo as coisas certas, do jeito certo". Precisamos ter essa visão como referência para os novos empreendedores. Um tanto dessa crença pode vir da observação prática do que já vem acontecendo nas empresas em geral. Outro tanto deve vir da visão do país que queremos construir. A isso chama-se de "crer para ver". Acreditarmos e nos posicionarmos, não apenas para termos empresas melhores, mas também para termos um Brasil melhor.

FÁBIO C. BARBOSA, 55, administrador de empresas, é presidente do Grupo Santander Brasil e da Febraban. Escreve mensalmente, aos domingos, neste espaço.
colletti.barbosa@gmail.com



AMANHÃ EM MERCADO:
Gustavo Cerbasi




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