São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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Logística inova reação a desastre natural

Governos e organizações humanitárias adotam conceito empresarial para atender desabrigados, com lições ao Brasil

GPS e Google Maps são usados em resgates; alimentos e abrigos são padronizados e evitam atrasos e desperdício

RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

No Rio de Janeiro, já faltam até sacos para recolher cadáveres, mas a logística humanitária tem se desenvolvido muito pelo mundo, empregando modelos utilizados pelas empresas privadas de logística.
O conhecimento utilizado após grandes catástrofes como o tsunami asiático, o furacão Katrina e o terremoto no Haiti produziu lições que estão sendo estudadas em todo o mundo.
Cursos superiores e multidisciplinares sobre defesa civil se tornam populares em universidades americanas e asiáticas.
Arquitetos e urbanistas estudam materiais resistentes à água e ao fogo, e fazem projetos de reconstrução que evitem futuros desastres.
Várias dessas lições podem servir de exemplo ao Brasil:

PADRÃO DE EMERGÊNCIA
O projeto Esfera, estabelecido após o genocídio de Ruanda, criou padrões de base para a ajuda. Cada vítima necessita entre 7,5 e 15 litros de água para beber, cozinhar e lavar e 2.100 calorias por dia, mas 3,5 m2 de abrigo.
Uma instituição católica na República Dominicana, que sempre responde a tragédias, compra barras de granola, sardinhas em lata e creme de amendoim, ricos em proteína, não perecíveis e de fácil transporte.

PAPELÃO E NEGÓCIO
O arquiteto japonês Shigeru Ban, voluntário no terremoto de Kobe (1995), desenvolveu tendas, escolas e clínicas que não oferecem risco de novo desabamento.
Na moldura das construções, tubos de papelão recicláveis são reforçados e preparados à prova d'água e resistentes ao fogo, o piso é de espuma e o teto é feito com madeira compensada, revestido de isolante.
As tendas foram usadas após o tsunami no Sudeste Asiático, em 2004. Companhias japonesas com fábricas na China produziram mais de 50 mil.

SOFTWARE E BOLSAS
Depois de vender para a UPS sua empresa de transportes, presente em 120 países e com 10 mil funcionários, por US$ 500 milhões, o americano Lynn Fritz, 63, criou o Instituto Fritz, consultoria que emprega seus conhecimentos em armazenagem e distribuição.
Ele desenvolveu programas de computação que ensinam logística a ONGs; criou uma conferência anual que reúne especialistas para discutir os últimos desastres; e oferece bolsas de estudo em universidades americanas que estudam resposta a tragédias. Microsoft, Intel e Philips colaboram com Fritz.

POSTOS AVANÇADOS
Próximos a áreas onde desastres acontecem com frequência, são instalados polos logísticos com pessoal treinado, armazenamento para remédios, tendas e material de resgate.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha criou polos logísticos em Dubai e Kuala Lampur, com boa comunicação e onde alfândega e burocracia funcionam bem.
A "Cidade Humanitária Internacional", em Dubai, inclusive, é uma área com isenção de taxas e impostos.
Essa logística reduziu os custos da Cruz Vermelha com uma família em risco de US$ 740 para US$ 185.

GPS
Após o terremoto do Haiti, no ano passado, a ONG britânica Map Action usou GPS e imagens de satélite e Google Maps para localizar desabrigados, checar que ruas ou estradas estavam bloqueadas ou pontes que desmoronaram -facilita a busca e evita desperdício de tempo.

CONTRATO COM VAREJO
A Cruz Vermelha assinou contratos com empresas de transporte e grandes redes varejistas para a realização de compras emergenciais com preço preestabelecidos, evitando desperdício de tempo com negociações.
Há encomendas periódicas de redes contra mosquito fabricadas no Vietnã e utensílios de cozinha e de higiene made in China.


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