São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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ANÁLISE ENERGIA

Catástrofe japonesa afeta estratégias energéticas mundiais

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A recente catástrofe no Japão nos insta ao luto pela perda de tantas vidas, mas é preciso analisar suas consequências econômicas.
Num primeiro momento, houve queda nos preços internacionais do petróleo, refletindo a expectativa de que a demanda japonesa da commodity será afetada pela redução da produção.
Vamos aos fatos: desde a década de 1970, o Japão tem uma política energética que foca no aprimoramento da eficiência energética e na redução da dependência de importações de combustíveis fósseis.
Em decorrência disso, o país reduziu a participação do petróleo em sua matriz energética de 80% nos anos 1970 para cerca de 45% em 2008, de acordo com o EIA (Energy Information Administration), e gradativamente aumentou a participação da energia nuclear (11% em 2008), fazendo do país o terceiro maior produtor mundial desse tipo de energia.
Ainda assim, o Japão continua sendo o terceiro maior consumidor de petróleo (cerca de 4,4 milhões de barris por dia) e o segundo maior importador.
Segundo o EIA, do total de capacidade de geração de energia elétrica do país em 2008, 67% foram originadas em usinas térmicas convencionais, 24% em usinas nucleares, 7% em usinas hidrelétricas e 2% em outras fontes renováveis.
Considerando a fatia atendida pelas térmicas, cerca de 10 pontos percentuais vêm de térmicas movidas a petróleo (utilizadas, basicamente, para atender os picos de demanda), 30 pontos percentuais, de térmicas movidas a gás, e 25 pontos percentuais, de térmicas a carvão (recurso totalmente importado -em grande parte, da Austrália).
A estratégia era aumentar ainda mais a participação da energia nuclear na geração de eletricidade -para 40% em 2017 e para 50% em 2030.
Entretanto, os problemas com o sistema de resfriamento de emergência de uma usina nuclear, com risco de contaminação radioativa da população, trazem à tona uma revisão dessa estratégia.
No mínimo, os custos da energia nuclear devem subir consideravelmente, pois medidas adicionais de segurança serão exigidas.
A repercussão já é visível -Alemanha e Suíça começam a rever as normas de segurança de suas usinas nucleares e efeito cascata similar deve ocorrer ao redor do mundo.
Com isso, no médio e longo prazos, deve subir a demanda por outras fontes de energia (petróleo, carvão, biocombustíveis e eólica).
Num mercado que pode ainda estar sob a influência de tensões geopolíticas, não se descartam novos suportes de cotações dessas matérias-primas.
O Brasil, produtor de todas essas commodities, deverá ser importante supridor dessa demanda extra.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.

Internet: www.rosenberg.com.br


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