São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2010 |
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VINICIUS TORRES FREIRE Reprise da novela do real forte
O DÓLAR à beira de R$ 1,70 e a tentativa do Japão de desvalorizar o seu iene levaram o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a dizer: 1) O Brasil não vai deixar no mercado "nenhum excesso de dólar", o que em tese valorizaria ainda mais o real (mas o Brasil já não deixa excesso, e o fortalecimento do real talvez nem se deva apenas a isso); 2) O Brasil não vai "ficar assistindo" à tentativa das economias do mundo rico de sair da crise "à nossa custa". Isto é, por meio de desvalorizações de suas moedas, o que estimularia exportações e, assim, criaria alguma fonte de dinamismo em economias em que a demanda doméstica não reage mesmo com taxas de juro zero (mas entre economistas "top" do planeta há controvérsia a respeito da existência de um movimento mundial de desvalorização competitiva); 3) O governo pode intervir no mercado por meio do Banco Central (compra de dólares no mercado à vista e futuro), por meio do Tesouro (que compraria dólares por meio do Fundo Soberano), por meio da taxação de investimentos de estrangeiros e "outros instrumentos" (não explicitados, mas que, por exemplo, podem ser a limitação das operações dos bancos com câmbio). Tanto o governo como o Congresso dos EUA, além de sindicatos e algumas empresas, reclamam da China, que mantém sua moeda artificialmente desvalorizada e, assim, em tese, limita exportações americanas, o bla-bla-blá habitual. Grandes empresas japonesas fizeram lobby pela intervenção no câmbio, a primeira desde 2004. Os países da eurozona reclamam da Alemanha, que limitaria demais o crescimento do consumo doméstico e, assim, exportaria demais. Não se trata obviamente de uma crítica à política cambial alemã, pois a eurozona tem uma moeda só. Mas há queixa sobre as vantagens "indevidas" da superexportadora Alemanha. Em suma, há gritaria variada e ampla a respeito de câmbio, exportações e seus efeitos na retomada do crescimento. Porém, apesar dessas evidências de lobby cambial em favor de desvalorizações competitivas, há quem diga que essa onda é mera aparência. Que as autoridades financeiras do mundo rico sabem que tais desvalorizações em cadeia não favoreceriam ninguém, no final das contas. Que as grandes empresas mundiais, transnacionais que integram a produção de suas unidades em vários países, não se interessariam pelas desvalorizações -e assim influenciariam governos. Etc. O que estaria havendo é ainda e apenas um grande relaxamento monetário. Além de taxa de juro zero, o mundo rico estaria "imprimindo" dinheiro a fim de criar uma inflaçãozinha contida e animar a economia. O Japão, por exemplo, comprou dólares, mas não enxugou o mercado dos ienes utilizados na aquisição. Isto é, injetou dinheiro na economia. EUA e Reino Unido fazem a mesma coisa, por outros meios e com outros objetivos explícitos. Ou seja, é o grande relaxamento monetário do mundo rico que produz a torrente de dinheiro barato (lá) que valoriza o real e outras "moedas-commodities". A intervenção no câmbio seria acessória. Enfim: como o Brasil pode conter a torrente de dinheiro do relaxamento monetário do mundo rico, que ainda deve durar pelo menos uns dois anos? Quanto custa? vinit@uol.com.br Texto Anterior: 1 milhão de veículos têm recall em 2010 Próximo Texto: Twitter renova site e quer atrair anúncio Índice | Comunicar Erros |
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