São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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O dono da escola

Chaim Zaher é o controlador do maior grupo de escolas do país e defende a privatização da gestão da educação e a cobrança em universidades do governo

ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

Quando Chaim Zaher, 57, controlador do SEB (Sistema Educacional Brasileiro), recebeu a proposta para vender as redes de escolas COC, Pueri Domus, Dom Bosco e seus sistemas de ensino, percebeu que não conseguiria ficar longe do negócio chamado educação.
"Fizeram uma proposta muito boa [não diz o valor], mas pensei no que faria com o dinheiro e concluí que compraria escolas novamente. Só que não poderia concorrer com os compradores por cinco anos."
Então, para não ficar "rico e infeliz" durante todo esse tempo, ele resolveu vender por R$ 888 milhões apenas a divisão de materiais didáticos para a britânica Pearson Educacion, que controla o jornal "Financial Times". E ficou satisfeito.
Pudera. Nove meses depois da transação, o empresário diz ter um faturamento estimado em R$ 400 milhões por ano, quase o triplo do que a Pearson fatura com as empresas que comprou dele.
Isso foi possível, segundo Chaim, porque sem as editoras dos materiais didáticos o grupo teve condições de investir integralmente na modernização das escolas.
Pelos resultados que o grupo obteve e por quatro décadas nesse mercado, ele só vê uma forma qualificar a educação pública: "Escola, para dar certo, tem de ter dono".

PRIVATIZAÇÃO
A afirmação desse libanês naturalizado brasileiro expõe também a face de empresário agressivo nos negócios, para quem não basta "gostar" do ramo. Perder dinheiro não é uma opção.
"Não estou dizendo que tem de privatizar as escolas públicas. Mas acho que o recurso deveria ser melhor aproveitado."
Como quem parece saber que pode deixar muita gente de cabelos em pé, continua: "É fato, nem todo diretor pedagógico é um bom gerente, um bom administrador. E toda escola tem de ser tratada assim, como empresa".
Nessa linha de raciocínio, o dono do maior grupo de escolas próprias do país defende a privatização da gestão das unidades públicas e até a cobrança de taxas para estudantes de universidades do governo.
"No Brasil ninguém teve coragem de cobrar daqueles que podem pagar. O ensino público depende muito de verba do governo, que não é usada necessariamente para melhorar condições de alunos e professores."

CARREIRA
Chaim é uma espécie de Silvio Santos da educação. Hoje bilionário, ele trabalhou como mascate para ajudar o pai e seu primeiro emprego na área educacional foi vender matrículas para uma escola de Araçatuba (interior de São Paulo).
Fez "carreira" na primeira escola, até deu aulas, mesmo não sendo professor. Mas foi demitido quando sugeriu ao patrão que buscasse parceiros para não perder espaço para os cursinhos da capital, que começavam a invadir o interior na década de 70.
Sem emprego, conseguiu fazer uma parceria com professores de um colégio paulistano. Chaim se desdobrava como diretor do pequeno cursinho que montou. "Cheguei a dormir na porta da casa do professor, em Rio Preto, para poder levá-lo de manhã para Araçatuba", conta.
O primeiro grande salto foi se tornar franqueado do Objetivo, hoje seu concorrente. Para firmar a parceria, porém, ele precisou pegar João Carlos Di Genio de surpresa. E foi inusitado. Chaim dormiu no banheiro da escola onde o fundador do Objetivo estaria no dia seguinte.
O contrato com Di Genio veio em 1976. Cerca de dez anos depois, Chaim comprou o COC.
Além de escolas, o empresário tem outra paixão declarada: o cantor Roberto Carlos. O "apreço" é tanto que todo dia 19 de abril, aniversário do rei, Chaim dá uma festa e convida um sósia do cantor para animá-la.
"Tem música, só toca Roberto Carlos, tem bolo e parabéns. Ele [Roberto] sabe disso, encontro ele sempre, vou aos shows", conta o fã, exibindo fotos suas ao lado do ídolo em um iPad 2.
Aliás, fissurado também em tecnologia, Chaim começa a distribuir um tablet para cada um de seus milhares de alunos a partir deste mês.


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