São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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Rede de roupas fashion vive polêmica

A American Apparel, presente em 20 países, enfrenta dívidas e acusações de escolher vendedores por fotos

Fundador da empresa diz que negócio "é uma arte" e que a seleção de pessoal é como a feita para filmes ou galerias

FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES


No turístico bairro de Hollywood, em Los Angeles, um rapaz de shorts, sapatos sociais e gravata-borboleta trabalhava na loja American Apparel, famosa pelas roupas básicas e monocromáticas e pelos anúncios com mulheres seminuas.
Alto, olhos azuis e rosto coberto de espinhas, o vendedor faz parte de um time de mais de 10 mil funcionários da empresa californiana, dona da maior fábrica de vestuário dos EUA e de quase 300 lojas em 20 países -incluindo uma na rua Oscar Freire, em São Paulo.
O visual do garoto é parte essencial da filosofia American Apparel. Na semana passada, vazaram documentos mostrando o rígido processo de seleção de vendedores, baseado em fotos de corpo inteiro e num manual que detalha como aparar sobrancelhas ou se maquiar.
De acordo com o site nova-iorquino Gawker, o excêntrico fundador da marca, o canadense Dov Charney, contrata ou demite de acordo com essas fotos.
"Não somos o Walmart. Se você tivesse uma butique em São Paulo, não ia querer as melhores pessoas trabalhando lá?", perguntou Charney à repórter.
""Temos travestis, pessoas sem um braço, sem uma perna, de todas as cores, tamanhos. Queremos pessoas interessantes, intrigantes", disse. "É um trabalho de seleção, como acontece para filmes ou para trabalhar num bar, galeria, hotel. É arte."
Esse é apenas mais um problema na lista de Charney, que corre o risco de perder o controle da empresa, fundada em 1989 e que já chegou a ter receita de US$ 210 milhões em 2005.
As ações perderam mais da metade do valor após prejuízos registrados no primeiro trimestre, depois que 1.800 funcionários foram obrigados a deixar a fábrica por causa de uma investigação sobre imigrantes ilegais.
Agora, a American Apparel negocia sua principal dívida com uma empresa britânica, que emprestou US$ 80 milhões em março de 2009.
"Somos uma empresa jovem, é normal [passar por isso]", disse Charney, que detém um pouco mais da metade das ações. "As pessoas estão exagerando o problema. Não podem ver uma companhia ser popular e famosa, querem atirar pedras."
A American Apparel ficou famosa nos anos 2000, quando expandiu fábrica e lojas e virou queridinha das celebridades e revistas de moda, vendendo camisetas sem estampas por R$ 80, leggings brilhantes e underwear.
No Brasil, a rede abriu uma loja em 2008. Charney afirmou que, apesar do início difícil, as vendas em São Paulo vão bem, com uma alta de 40% em relação a 2009.
"Gosto muito do Brasil, tenho parentes lá", disse ele, cuja família judia do avô fugiu da Síria na 2ª Guerra para o Canadá e o Brasil.


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