São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Para onde vai o dinheiro grosso


No Brasil e no mundo, é recorde o dinheiro envolvido em aquisições de empresas ligadas a recursos naturais

OS NEGÓCIOS COM recursos naturais, commodities, estão em fase de mania de novo. Não tanto no que diz respeito à especulação com o preço dos produtos, como em meados de 2008, logo antes da explosão final da crise. Mas, sim, nas operações de fusões e aquisições de empresas.
O dinheiro envolvido nos negócios de fusões e aquisições (F&A) nunca foi tão grande no Brasil como no primeiro semestre deste 2010: R$ 84,8 bilhões. O balanço foi divulgado ontem pela Anbima, a Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais.
Em valores, a maior parte das operações ocorreu no setor do agronegócio (23,8%). Depois vêm metalurgia e siderurgia (20,2%) e química e petroquímica (16,8%), também ligadas ao setor de recursos naturais, esteio da economia brasileira.
O dinheiro grosso corre para aquilo que certa corrente de economistas, desde as polêmicas sobre industrialização, nos anos 1940-50, insiste ser a "vocação manifesta" da economia do país: recursos naturais. Na verdade, tal vocação aflora, submerge ou ressuscita de acordo com as andanças da economia mundial, cujo vetor agora é a China. Mas, goste-se ou não, o dinheiro de investimentos, exportações ou fusões cresce no setor de commodities, derivados e agregados.
Note-se de passagem que a maior parte do total do dinheiro envolvido nessas transações (67,6%) veio de empresas brasileiras, que compraram estrangeiras (46,6%) ou outras empresas nacionais (21%). Cresce de maneira significativa a participação de empresas asiáticas no bolo de dinheiro usado na compra de firmas brasileiras, informa a Anbima.
As ações da siderúrgica US Steel subiram ontem com os boatos de que a indiana ArcelorMittal pretende comprá-la. Também ontem, uma das três maiores mineradoras do mundo e concorrente da brasileira Vale, a australiana BHP, reafirmou sua proposta de compra da canadense Potash, a maior do mundo na fabricação de fertilizantes. A oferta é agora hostil, um negócio de quase US$ 39 bilhões (R$ 68 bilhões) e que pode ficar ainda maior.
Segundo cálculos da agência de notícias e serviços para a finança Bloomberg, baseados em seu banco de dados, os negócios de fusões e aquisições deste ano no setor de commodities podem superar o recorde de 2007. No ano seguinte, pouco antes da crise, os preços de recursos naturais iriam à Lua.
Já são US$ 362 bilhões (R$ 637 bilhões) em F&A, ante os US$ 576 bilhões (R$ 1 trilhão) de 2007, cerca de 28% do total do dinheiro empregado em aquisições pelo mundo. Nos últimos dez anos, a participação média de commodities e químicos nesses negócios era a metade da registrada até agora neste ano.
Os preços de recursos naturais e bens mais diretamente derivados voltaram a subir depois do colapso de 2009, em particular devido à China e a "emergentes". O dinheiro para financiar as aquisições está barato, os juros estão muito baixos devido ao colapso das finanças dos países centrais do Ocidente, EUA e eurozona. As grandes empresas podem crescer gastando menos -em vez de "crescimento orgânico", por meio de novos empreendimentos, preferem abocanhar concorrentes.
No Brasil, o BNDES dá uma mãozinha às empresas nacionais. No mundo inteiro, é hora de cartéis e oligopólios de recursos naturais.

vinit@uol.com.br


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