São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

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RODOLFO LANDIM

Commodities


As razões para eesse crescimento passam pelo aumento da população e do padrão de consumo


É SEMPRE MUITO difícil tentar prever o comportamento dos mercados, principalmente quando falamos de ciclos de tempo relativamente curtos -e a história está aí para mostrar isso.
No entanto, podemos tentar pelo menos analisar macrotendências para grandes períodos baseados em parâmetros existentes.
Porém, a adoção de novas tecnologias nos processos produtivos e a criação de produtos leva a humanidade a mudanças de hábitos que trazem sempre riscos para as previsões, mas o bom senso diz que vale a pena tentar.
Vivemos em um mundo onde a demanda por commodities cresce de forma acentuada. Commodity é o nome dado aos produtos de base em estado bruto (matéria-prima) ou com pequeno grau de industrialização, utilizados como mercadoria nas transações comerciais.
Esses produtos possuem grande importância na economia porque, mesmo sendo mercadorias primárias, possuem cotação de preço em um mercado global.
As razões desse crescimento passam pelo aumento da população mundial e do padrão médio de consumo das pessoas, notadamente em alguns países de grande população e em franco desenvolvimento.
A população mundial é hoje de cerca de 6,9 bilhões e as projeções mostram que ela deverá superar a marca de 9 bilhões em 2050. Enquanto vemos regiões e países desenvolvidos com população praticamente estável (exceção feita aos Estados Unidos), outros continuam a avançar em ritmo acelerado.
Nos últimos dez anos, por exemplo, Europa e Japão tiveram crescimento populacional inferior a 1% em todo o período. Os demais países, notadamente aqueles hoje apelidados de mercados emergentes, continuam a ter aumento demográfico, apesar dos programas em diversos deles para controlar a taxa de fertilidade das mulheres.
Só para exemplificar, Brasil, Índia e China, onde as taxas de crescimento populacional vêm declinando nos últimos anos, ainda se encontram em patamares bem mais elevados e na casa de 1,2%, 1,5% e 0,6% ao ano, respectivamente.
Nesse particular, China e Índia são muito importantes se levarmos em conta que 4 entre cada 10 habitantes de nosso planeta vivem em um desses dois países.
Mas o impacto mais importante vem da melhoria do padrão de vida nos países mais pobres, que são aqueles em que proporcionalmente mais cresce a renda.
A tecnologia associada a processos produtivos cada vez mais eficientes e em alta escala reduz o custo e permite o acesso a uma infinidade de produtos, dos mais simples aos mais sofisticados, aquecendo a demanda pelas commodities.
Estamos falando de grãos, açúcar, aço, petróleo -e a notícia é boa para nós. Com sua enorme extensão de áreas agricultáveis, clima favorável, água em abundância, expressiva produção de minério e hoje detentor de um dos maiores potenciais petrolíferos do mundo no pré-sal, o Brasil tem muito a ganhar.
Temos empresas competitivas atuando nessas áreas, aplicando tecnologia de ponta. Além disso, os recursos minerais são finitos e o acesso a eles, cada vez mais restrito e difícil, o que sugere bons preços para as commodities.
No caso do petróleo, a tendência parece mais clara. Os campos sofrem um declínio natural que reduz a produção mundial entre 5 e 6 milhões de barris por dia todo ano.
Assim, o equivalente a quase três vezes a produção brasileira tem que ser acrescentada à capacidade produtiva mundial anualmente apenas para manter o nível de oferta. Não é à toa que a produção do mundo se encontra praticamente estabilizada nos últimos cinco anos.
Apesar de alguns estudos apontarem para a possibilidade técnica de expressivo crescimento da oferta de petróleo em longo prazo, o que vemos nos últimos anos é a demanda sendo regulada por preço.
E o grande crescimento da indústria automobilística nos emergentes, notadamente na China, sugere que os preços tendem a subir.
As commodities têm tudo para crescer ainda mais em importância na economia mundial, e investir em petróleo continua a ser extremamente promissor.

RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Michael Spence



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