São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Incerteza econômica no Japão influencia mercado do milho

LEONARDO SOLOGUREN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na semana passada, o mercado financeiro global foi movido pelas expectativas em relação ao futuro do Japão após o país ter sido atingido por uma de suas piores catástrofes naturais.
A incerteza em relação à economia asiática chega para apimentar o nível especulativo nos mercados de derivativos, que já estavam sendo afetados pelos conflitos do Oriente Médio e norte da África, assim como pela preocupação econômica que permanece na zona do euro.
Por se tratar de um dos maiores importadores globais de grãos, o futuro do Japão passa a ter uma forte influência sobre a precificação das commodities agrícolas.
Como os principais portos do país asiático foram comprometidos pelo terremoto seguido de tsunami, paira a incerteza em relação ao volume que será importado pelo Japão, não apenas no curto prazo como no médio prazo também.
Isso porque não se sabe ao certo quanto tempo levará para o país recompor sua infraestrutura básica.
No caso do milho, o Japão se destaca por ser o maior importador global do cereal, sendo responsável por mais de 17% das importações mundiais. Consequentemente, os preços do cereal sofreram forte queda após as notícias da catástrofe.
Naquele momento, os preços das commodities agrícolas já estavam sofrendo pressão negativa em razão do direcionamento de recursos dos fundos para os mercados futuros de petróleo, que passaram a ganhar atenção com os conflitos do Oriente Médio e norte da África.
Como toda queda de preços acentuada representa oportunidade, os preços futuros do milho voltaram a registrar expressiva recuperação ao final da semana passada, com o interesse de compra por parte dos fundos de investimentos.
Isso demonstra claramente que os movimentos especulativos deverão ficar mais intensos com as incertezas referentes ao Japão.
No caso do Brasil, as exportações brasileiras de milho deverão ser pouco afetadas pelo desastre ocorrido no Japão.
As vendas externas do cereal ao país asiático representam pouco mais de 5% de nossas vendas externas, ao contrário dos Estados Unidos, onde 30% das exportações de milho são direcionadas ao Japão.
Apesar de nossa menor dependência do mercado japonês, o Brasil poderá sofrer com as oscilações de preços na Bolsa de Chicago, que refletem muito mais as condições do mercado norte-americano do que as condições do mercado da Amé- rica do Sul.
Se os preços forem afetados negativamente pela piora das expectativas em relação à recuperação da infraestrutura portuária do Japão, a formação dos preços das vendas externas no Brasil -que tem a Bolsa de Chicago como referência- também será afetada.
Ao mesmo tempo, ganharíamos um concorrente muito mais eficiente do que nós, que são os Estados Unidos.
Caso as vendas externas ao Japão se mostrem realmente comprometidas, os exportadores norte-americanos buscarão novos mercados, alcançando fatias onde o Brasil, de certa forma, já se mostra consolidado.
Enfim, está aberta a temporada de fortes emoções.

LEONARDO SOLOGUREN é engenheiro agrônomo, mestre em economia e sócio-diretor da Clarivi.


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