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Ameaça de intervenção não segura dólar
Real volta a se valorizar um dia depois de Fazenda prometer usar, de forma "ilimitada", dinheiro do Fundo Soberano
Capitais especulativos,
sem alternativa de
rendimento no exterior,
continuam entrando no
Brasil atrás do juro alto
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
No primeiro dia após o
anúncio de que o Fundo Soberano do Brasil (FSB) atuará
no câmbio para conter a valorização do real, o dólar voltou a cair ontem. Fechou com
baixa de 0,58%, a R$ 1,71.
Embora o ministro Guido
Mantega (Fazenda) diga que
o FSB terá poder de fogo "ilimitado", seguem pequenas
as chances de o Brasil conter
a valorização do real, avaliam especialistas.
O ponto central é que os juros nas principais economias
do mundo estão próximos a
zero ou negativos na tentativa desses países de recuperar
dinamismo econômico.
No Brasil, a taxa básica de
juros (Selic) é de 10,75% ao
ano. Isso faz do país um
"ímã" para capitais especulativos de fora (ingressaram
US$ 2,7 bilhões em agosto).
Outros países que saíram
mais rápido da crise global
também vêm sofrendo com a
valorização de suas moedas,
maior até que a do real diante
do dólar. Casos do Peru, do
Chile e da Austrália.
"O poder do Fundo Soberano é limitado. O Brasil não
pode bancar o resto do mundo", diz o economista José
Márcio Camargo, da PUC-RJ e
da Opus Gestão de Recursos.
No total, o FSB tem hoje
em caixa R$ 17,9 bilhões
(US$ 10,5 bilhões). É um valor considerado baixo diante
do fluxo de dólares que o Brasil vem recebendo.
Só nos primeiros 17 dias de
setembro, o Banco Central
ampliou em quase US$ 7 bilhões (para US$ 261,3 bilhões) as reservas internacionais do país, "enxugando"
dólares do mercado na tentativa de conter a alta do real.
O FSB pode ampliar seu
poder de fogo. Basta o Tesouro emitir títulos da dívida pública e destinar os recursos
para a compra de dólares.
O problema é que, assim
como nas intervenções do
BC, há custo elevado para a
dívida pública nisso.
Os títulos emitidos pelo
Tesouro pagariam juros de
10,75% ao ano, mas o valor
levantado seria destinado à
compra de dólares que não
param de se desvalorizar.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do
banco Fator, a decisão da Fazenda de usar o Fundo Soberano pode ter um "efeito psicológico" no mercado.
"Só de gritar e dizer que o
poder será "ilimitado", a Fazenda segura um pouco a
ação de especuladores."
Mas ele considera difícil
conter a valorização do real.
Especialmente agora que o
Fed (o BC norte-americano)
pode injetar mais dólares a
custo zero nos EUA para tentar recuperar a economia.
"Parte desses dólares certamente acabará entrando
para especular no Brasil."
Felipe Salto, economista
da Tendências, disse que
"faz todo o sentido" usar o
FSB para segurar o dólar às
vésperas da capitalização da
Petrobras. Ela pode chegar a
R$ 133 bilhões e atrair nova
enxurrada de dólares.
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