São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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Ameaça de intervenção não segura dólar

Real volta a se valorizar um dia depois de Fazenda prometer usar, de forma "ilimitada", dinheiro do Fundo Soberano

Capitais especulativos, sem alternativa de rendimento no exterior, continuam entrando no Brasil atrás do juro alto

FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

No primeiro dia após o anúncio de que o Fundo Soberano do Brasil (FSB) atuará no câmbio para conter a valorização do real, o dólar voltou a cair ontem. Fechou com baixa de 0,58%, a R$ 1,71.
Embora o ministro Guido Mantega (Fazenda) diga que o FSB terá poder de fogo "ilimitado", seguem pequenas as chances de o Brasil conter a valorização do real, avaliam especialistas.
O ponto central é que os juros nas principais economias do mundo estão próximos a zero ou negativos na tentativa desses países de recuperar dinamismo econômico.
No Brasil, a taxa básica de juros (Selic) é de 10,75% ao ano. Isso faz do país um "ímã" para capitais especulativos de fora (ingressaram US$ 2,7 bilhões em agosto).
Outros países que saíram mais rápido da crise global também vêm sofrendo com a valorização de suas moedas, maior até que a do real diante do dólar. Casos do Peru, do Chile e da Austrália.
"O poder do Fundo Soberano é limitado. O Brasil não pode bancar o resto do mundo", diz o economista José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da Opus Gestão de Recursos.
No total, o FSB tem hoje em caixa R$ 17,9 bilhões (US$ 10,5 bilhões). É um valor considerado baixo diante do fluxo de dólares que o Brasil vem recebendo.
Só nos primeiros 17 dias de setembro, o Banco Central ampliou em quase US$ 7 bilhões (para US$ 261,3 bilhões) as reservas internacionais do país, "enxugando" dólares do mercado na tentativa de conter a alta do real.
O FSB pode ampliar seu poder de fogo. Basta o Tesouro emitir títulos da dívida pública e destinar os recursos para a compra de dólares.
O problema é que, assim como nas intervenções do BC, há custo elevado para a dívida pública nisso.
Os títulos emitidos pelo Tesouro pagariam juros de 10,75% ao ano, mas o valor levantado seria destinado à compra de dólares que não param de se desvalorizar.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, a decisão da Fazenda de usar o Fundo Soberano pode ter um "efeito psicológico" no mercado.
"Só de gritar e dizer que o poder será "ilimitado", a Fazenda segura um pouco a ação de especuladores."
Mas ele considera difícil conter a valorização do real. Especialmente agora que o Fed (o BC norte-americano) pode injetar mais dólares a custo zero nos EUA para tentar recuperar a economia.
"Parte desses dólares certamente acabará entrando para especular no Brasil."
Felipe Salto, economista da Tendências, disse que "faz todo o sentido" usar o FSB para segurar o dólar às vésperas da capitalização da Petrobras. Ela pode chegar a R$ 133 bilhões e atrair nova enxurrada de dólares.


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