São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

A bagaceira dos candidatos


Em sabatina de industriais, candidatos desconversam sobre impostos altos, BC, distribuição de renda etc.

OS EMPRESÁRIOS da indústria até que tentaram espremer o bagaço que é um candidato passado pela moenda marqueteira. Foi na sabatina de ontem com candidatos a presidente promovida pela Confederação Nacional da Indústria, a CNI. A bagaceira estava tão sequinha que, no último dos apertos, rendeu apenas algumas gotas de conversa fiada e algum humor involuntário.
Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) fizeram exposições, foram entrevistados e não puderam se fazer perguntas.
De mais relevante, Serra repetiu sua frase "polêmica" sobre o Banco Central: que não seria a "Santa Sé"; os diretores do BC seriam "competentes", mas não os "donos da verdade". O que isso quer dizer?
Em si mesmo, nada, até porque espinafrar a Igreja Católica e Bento 16 é de graça, afora para os raros católicos sinceros. Parece que Serra quis dar novamente o recado vago e talvez contraproducente de que uma direção do BC em seu governo estará sob rédea mais curta.
Seguindo a metáfora tucana, os diretores do BC não serão "infalíveis" como o papa. Em tese, estariam sob uma jurisdição superior.
É isso? Difícil saber. Serra disse também que as política monetária e fiscal, as equipes do BC e da Fazenda, funcionarão de modo harmônico, sem disputas. É louvável a pregação de harmonia. Mas BC e Fazenda estarão de acordo em quê?
A Fazenda é que vai seguir o pessoal do BC? Vai haver metas fiscais (gasto público) e monetárias (inflação) conjuntas? A taxa de juros "básica", a do BC, não seria mais definida só de acordo com a inflação? Vai mudar o sistema atual? Pode ser boa ideia. Mas qual é a ideia?
A exposição de Dilma baseou-se na ideia de que ela quer que o país seja uma maravilha, sem pobres, inflação etc. A seguir, disse que a "reforma das reformas" é a tributária. Defendeu a redução ou a isenção de impostos sobre investimentos, exportações e emprego. Isto é, vai abrir mão de muito imposto.
Mas reformas tributárias apenas progridem quando um ente federativo absorve as perdas de receita. Como Estados e municípios jamais se entendem sobre o assunto, cabe ao governo federal desistir de mais receita. Dilma, pois, parece estar propondo um baita ajuste fiscal (um baita corte de gastos do governo federal). Está mesmo?
O momento de humor involuntário foi Dilma dizer algo parecido com "todo mundo vai estar acima da média" no Brasil. Ou melhor, a renda mínima será a da "classe média" ou a da "classe C" -as "classes" D e E seriam extintas. Antes de mais nada, deplore-se que esse conceito mercadológico de "classe", de fato útil para o pessoal de marketing e vendas, tenha-se tornado um critério de mensuração de política pública. Mas o que Dilma quis dizer?
Sem explicar quem fica com quanto, e em quanto tempo, a meta de Dilma nada significa, para nem falar da dificuldade de um governo determinar a alocação de renda.
Dilma quis dizer que a renda dos estratos mais pobres será mais ou menos de R$ 1.000, a da "classe C". Será essa a renda dos 10% mais pobres? Dos 30% mais pobres? Se tal coisa fosse assim manipulável e se a promessa é para o horizonte de um governo, a depender da distribuição da renda será preciso congelar ou talhar os ganhos da "classe A". É isso que ela quis dizer?

vinit@uol.com.br


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