São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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Retrato do Brasil nunca foi tão positivo, mas gasto é preocupação

DO ENVIADO A DAVOS

Se o ex-presidente Lula tivesse vindo neste ano a Davos, poderia usar com plena razão o seu bordão favorito: nunca antes, nos 20 anos que este repórter acompanha o convescote das grandes corporações globais, o retrato do Brasil foi tão positivo.
Moisés Naím, a principal voz do Fórum Econômico Mundial para América Latina, chegou ao exagero de chamar de "milagre" o fato de o Brasil ter crescido como cresceu no período Lula e, ao mesmo tempo, ter reduzido a desigualdade.
A Folha observou que a redução da desigualdade se dera apenas entre os salários, mas não no desnível principal, que é entre a renda do capital e a do trabalho.
Naím aceitou o argumento, mas fez questão de manter o rótulo de "milagre", porque, lembrou, países que crescem muito tendem a aumentar a desigualdade (é o caso da China, por exemplo).
É esse ambiente amplamente amável e simpático que encontrará a delegação brasileira que apresentará amanhã a nova administração, na sessão batizada "Panorama do Brasil".
Nela estarão três representantes do governo federal (Luciano Coutinho e Alexandre Tombini, presidentes do BNDES e do BC, e Antonio Patriota, o novo chanceler).
Estarão também Frederico Fleury Curado (Embraer) e Renato Augusto Villela, secretário de Finanças do Rio.
Ontem, sessão sobre América Latina permitiu antecipar quais serão as observações que o público de Davos tende a apresentar à comitiva brasileira.
Diz, por exemplo, Ricardo Hausmann, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Escola Kennedy de Harvard:
"Minha preocupação sobre o Brasil é que a política fiscal é muito relaxada, o que leva a uma política monetária excessivamente dura".
Tradução: como o governo gasta muito, é preciso manter os juros elevados para combater a inflação.
Consequência: juros altos atraem capital, o que leva à apreciação da moeda e ao risco de desindustrialização.
Nada que não se diga abundantemente no Brasil.
Moisés Naím acrescenta um temor: o de que Dilma não tenha cintura política para evitar a nomeação de pessoas não competentes, só para atender ao apetite dos aliados e do próprio PT.
De todo modo, ele acredita que Dilma sabe perfeitamente como gerenciar a economia, pelo menos até seja testada por eventuais problemas econômicos, que não estão à vista. (CR)


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