São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Após a crise global, o mundo continua dividido, mas com um novo formato


OS PAÍSES EMERGENTES ESTÃO SE PROVANDO CAPAZES DE GERAR CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL


MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

A consequência imediata da crise financeira foi um colapso econômico, que veio acompanhado por ações heroicas e foi seguido por uma recuperação bem recebida.
Agora, estamos começando a ver a nova forma que a economia mundial tomou.
Trata-se de um mundo dividido. A divisão se deve em parte ao fato de que a doença -bolhas nos preços dos ativos, endividamento excessivo e irresponsabilidade do setor financeiro- afetou diretamente alguns países de alta renda, entre os quais o maior, os Estados Unidos.
Outra causa de divisão está no fato de que alguns dos remédios que os países de alta renda estão usando causam efeitos adversos no restante do mundo.
A causa fundamental de divisão, porém, é que os países emergentes estão se provando capazes de gerar crescimento sustentável.

DIFERENÇAS
A divergência entre o desempenho dos países de alta renda e o da maioria dos emergentes é notável.
Nos primeiros, o desemprego é elevado, a produção está bem abaixo da tendência, a política monetária continua agressiva e os deficit fiscais são altos.
Mas em muitos países emergentes a capacidade ociosa já foi reaproveitada e a inflação se tornou preocupação maior que a recessão.
Entre os motivos para o dinamismo dos países emergentes está o efeito secundário de políticas adotadas pelos de alta renda em crise, especialmente Estados Unidos.
Com apetite renovado por risco da parte dos investidores, os fluxos de capital na direção dos países emergentes se recuperaram de maneira vigorosa, ainda que se mantenham bem abaixo dos níveis de 2007.
Os influxos crescentes de capital nos países emergentes fazem completo sentido. No ano passado, argumenta o Banco Mundial, as economias dos países emergentes cresceram 7%, ante apenas 2% em 2009.
Mesmo excluídas China e Índia, cujas economias cresceram respectivamente 10% e 9,5%, as economias dos países emergentes e em desenvolvimento se expandiram em 5,2% em 2010.
A exceção significativa a essa história feliz foi a Europa Central e Oriental, com 4,7% de crescimento em 2010, após uma contração de 6,6% em 2009.
Enquanto isso, as economias dos países de alta renda continuam fracas. O Banco Mundial estima que seu crescimento médio foi de 2,8% em 2010, depois de uma contração de 3,4% no ano anterior. A economia dos Estados Unidos cresceu 2,8%, depois de encolher 2,6% em 2009, e a da zona do euro cresceu 2,7%, depois da queda de 3,5% no ano anterior.
Na economia mundial como um todo, vemos preços fortes para as commodities e pressões inflacionárias.
Nos países de alta renda, alguns observadores contrastam a fraqueza econômica nacional aos preços mais altos para os importados, e temem o retorno da estagflação dos anos 70.
Outros se preocupam com a possibilidade de que o fluxo de capital para os emergentes venha a resultar em nova e inevitável sucessão de crises financeiras no futuro.
O que é certo é que o desempenho econômico parece destinado a se manter díspar por longo tempo.
E, apesar de todos os desafios que a divergência atual cria, ela tem implicações benéficas. A atual disparidade indica ao menos a possibilidade de uma convergência mais profunda de rendas.
O mundo dividido que temos hoje pode no futuro significar um mundo menos desunido.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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