São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Crédito vai ficar mais caro e talvez se desacelerar com alta dos juros básicos

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora o custo do crédito não tenha voltado a cair, em abril o volume de fechamento de operações voltou a crescer com força e o prazo médio das operações continuou a se alongar. Essa foi, essencialmente, a evolução do mercado de crédito no mês passado, segundo o BC.
Sabendo-se que no dia 28 o BC aumentou a Selic de 8,75% para 9,5% e, ademais, que a expectativa de que uma elevação da taxa se avizinhava já vinha pressionando o custo em que os bancos incorrem para captar recursos, a estabilidade do custo do crédito poderia ser recebida com surpresa. Mas dois aspectos (apontados em artigo publicado há dois meses neste espaço) já permitiam antever que o impacto da alta da Selic seria mitigado.
O primeiro é o fato de que a inadimplência no crédito já vinha caindo e continuou a recuar em abril (embora mais lentamente): por isso o prêmio de risco que os bancos embutem no custo do crédito tenderia a também recuar. O segundo aspecto é a maior concorrência entre bancos.
Os bancos privados perderam espaço para os públicos no crédito, na fase mais aguda da crise, porque, receosos de um aumento muito forte da inadimplência, tornaram-se muito cautelosos.
Mas, a partir de dezembro e novamente em abril, a participação relativa dos bancos privados e públicos no estoque de crédito se manteve estável -claro indício de que a banca privada voltou à ofensiva na concessão de crédito.
O que se pode esperar doravante? Novas altas da Selic, e pronunciadas, são favas contadas. Por mais que os bancos estejam disputando clientes, é provável que o aumento do custo de captação induzido por esses aumentos acabe por se traduzir numa elevação do custo do crédito.
Isso poderá induzir alguma moderação no ritmo de crescimento do volume de concessões.
Mesmo que os bancos não se retraiam -por se sentirem seguros de que não haverá um repique do desemprego e, portanto, da inadimplência-, é possível que o apetite do consumidor por novas dívidas arrefeça.
Segundo estimativas da LCA, devido ao custo do crédito e ao seu prazo ainda relativamente curto, em média 18% da renda mensal das famílias já está comprometida com prestações.
Somando a isso o fato de que as reduções de IPI, já extintas, induziram antecipação de consumo, a demanda das famílias por crédito poderá se desacelerar.


FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


Texto Anterior: Em alta: Juro para o consumidor sobe em abril
Próximo Texto: Foco: Mantega sugere ao FMI criação de "PAC" para crise europeia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.