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ANÁLISE
Crédito vai ficar mais caro e talvez se desacelerar com alta dos juros básicos
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Embora o custo do crédito
não tenha voltado a cair, em
abril o volume de fechamento de operações voltou a crescer com força e o prazo médio
das operações continuou a se
alongar. Essa foi, essencialmente, a evolução do mercado de crédito no mês passado, segundo o BC.
Sabendo-se que no dia 28 o
BC aumentou a Selic de
8,75% para 9,5% e, ademais,
que a expectativa de que
uma elevação da taxa se avizinhava já vinha pressionando o custo em que os bancos
incorrem para captar recursos, a estabilidade do custo
do crédito poderia ser recebida com surpresa. Mas dois
aspectos (apontados em artigo publicado há dois meses
neste espaço) já permitiam
antever que o impacto da alta
da Selic seria mitigado.
O primeiro é o fato de que a
inadimplência no crédito já
vinha caindo e continuou a
recuar em abril (embora mais
lentamente): por isso o prêmio de risco que os bancos
embutem no custo do crédito
tenderia a também recuar. O
segundo aspecto é a maior
concorrência entre bancos.
Os bancos privados perderam espaço para os públicos
no crédito, na fase mais aguda da crise, porque, receosos
de um aumento muito forte
da inadimplência, tornaram-se muito cautelosos.
Mas, a partir de dezembro
e novamente em abril, a participação relativa dos bancos
privados e públicos no estoque de crédito se manteve estável -claro indício de que a
banca privada voltou à ofensiva na concessão de crédito.
O que se pode esperar doravante? Novas altas da Selic, e pronunciadas, são favas
contadas. Por mais que os
bancos estejam disputando
clientes, é provável que o aumento do custo de captação
induzido por esses aumentos
acabe por se traduzir numa
elevação do custo do crédito.
Isso poderá induzir alguma moderação no ritmo de
crescimento do volume de
concessões.
Mesmo que os bancos não
se retraiam -por se sentirem
seguros de que não haverá
um repique do desemprego
e, portanto, da inadimplência-, é possível que o apetite
do consumidor por novas dívidas arrefeça.
Segundo estimativas da
LCA, devido ao custo do crédito e ao seu prazo ainda relativamente curto, em média
18% da renda mensal das famílias já está comprometida
com prestações.
Somando a isso o fato de
que as reduções de IPI, já extintas, induziram antecipação de consumo, a demanda
das famílias por crédito poderá se desacelerar.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é
sócio-diretor da LCA Consultores.
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