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Cresce dependência por capital volátil
Com recorde no deficit de contas externas no primeiro semestre, país fica mais dependente do capital de curto prazo
Capital de curto prazo
cobrirá 30% do deficit
em conta-corrente
neste ano, maior percentual desde 1997
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
A dependência da economia brasileira de capital volátil para cobrir o rombo em
suas contas externas -que
registraram deficit recorde
no primeiro semestre do ano
(ver página B3)- deverá ser
em 2010 a mais alta em mais
de uma década.
Considerando as expectativas de mercado capturadas
pelo Banco Central no boletim Focus, o fluxo de investimento estrangeiro direto
(IED) para o país deverá somar US$ 33,7 bilhões neste
ano, 70% dos US$ 40 bilhões
projetados para o deficit em
conta-corrente.
Esse é o menor percentual
registrado desde 1997, quando o IED representou 64,6%
do deficit em conta-corrente.
A diferença tem de ser coberta por fluxo de capital de
curto prazo, que, ao contrário do IED, é volátil. Pode sair
do país da noite para o dia.
Apesar da forte deterioração, o risco de que o país sofra uma crise de balanço de
pagamentos, como as vividas em 1999 e 2002, é relativamente baixo hoje.
Em 1999 e 2002, as reservas internacionais do Brasil
representavam apenas 28% e
45% da necessidade de financiamento externo (que
inclui, além do resultado da
conta-corrente, os vencimentos de dívida externa e os pagamentos de juros).
Ou seja, o BC não tinha poder de fogo suficiente para
defender o real de forte fuga
de capital.
A política do BC de acumular reservas nos últimos anos
mudou o quadro. As reservas
em moeda estrangeira (excluindo ouro) foram o dobro
da necessidade de financiamento externo em 2009.
Embora essa relação deva
cair em 2010, continuará alta, bem acima de 100%.
Em janeiro de 2003, as reservas internacionais brasileiras eram quase a metade
do saldo registrado pela Índia: US$ 34,4 bilhões, ante
US$ 70,6 bilhões. No fim de
junho passado, os dois países empataram com um pouco mais de US$ 250 bilhões.
DEFICIT EM ALTA
O problema é que, para
que o Brasil continue crescendo sustentado pela demanda doméstica, há um risco nada desprezível de que o
deficit em conta-corrente siga aumentando.
Isso porque o país tem
uma taxa baixa de poupança
doméstica e não há sinal de
que o setor público fará um
ajuste em seus gastos para
melhorar esse perfil.
Ainda que essa dinâmica
não leve a uma crise de balanço de pagamentos, pode
forçar uma desvalorização
repentina do câmbio se o humor do mercado externo em
relação ao Brasil mudar.
Ajuste rápido no câmbio
pode levar a pressão inflacionária e, portanto, a aumento
dos juros, com impacto negativo sobre o crescimento.
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