São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2011 |
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ANÁLISE Consolidação do setor ainda não reflete novos investimentos
MAURO ZAFALON COLUNISTA DA FOLHA O setor sucroenergético teve forte evolução desde 2003, incorporando pelo menos 120 novos projetos. Os investidores miravam não só o bom desempenho do mercado interno, com os carros flex, mas também o fim dos subsídios nos EUA e a transformação do etanol em commodity. O fim dos subsídios parece estar próximo, mas encontra o setor brasileiro desarrumado. Sem condições de atender o próprio mercado interno, o Brasil ainda ficará fora do mercado externo nos próximos anos. Esperava-se, após a primeira leva de investimentos e a consolidação do setor, uma nova onda de aplicações. Esses investimentos, no entanto, ainda estão distantes. O problema atual não é de investimentos, mas agronômico. Sobra capacidade industrial, mas falta cana para moer -a capacidade é de 750 milhões de toneladas, mas as usinas terão à disposição apenas 590 milhões nesta safra. A origem dessa questão, no entanto, é financeira. Tradicionais grupos do setor vinham investindo pesadamente, mas a crise de 2008 secou a torneira do crédito. Muitos projetos foram engavetados e empresas tradicionais trocaram de mãos. A crise fez com que produtores independentes e usinas investissem menos na ampliação e na recuperação de canaviais. Esse abandono à renovação da cana e condições climáticas desfavoráveis nos anos seguintes foram decisivos para o quadro atual. Normalmente, a produção de cana atinge 88 toneladas por hectare (está próxima de 73). O álcool hidratado virou o patinho feio do setor. Açúcar e álcool anidro têm preços competitivos, o que não ocorre com o hidratado. O programa nacional de substituição de gasolina e de ampliação da produção de álcool é ambicioso. Os investimentos teriam de começar a amadurecer já, o que não é o caso, pois o balcão de negócios do BNDES continua vazio e as empresas metalúrgicas de montagem de usinas estão sem pedidos novos. O Brasil precisaria ampliar a produção dos atuais 600 milhões de toneladas de cana para 1,2 bilhão de toneladas para abastecer 60% da frota flex em 2020. Isso exigirá investimentos de pelo menos US$ 105 bilhões no setor. A situação atual não é muito confortável. O país terá de conviver com menor oferta de álcool nesta e na próxima safras, aumentando a importação de gasolina. Já a concretização dos investimentos para o futuro depende de uma política de governo. Algumas medidas anunciadas, como a tributação do açúcar exportado, só amedrontam o setor. Outras, como o incentivo ao plantio de cana, podem ajudar. Uma saída seria a tributação diferenciada em relação ao combustível fóssil. A tributação é, no entanto, mais um nó do setor. A aplicação de taxas diferenciadas em cada Estado dificulta o desenvolvimento do mercado. Texto Anterior: Governo estuda reduzir tributos para produzir etanol Próximo Texto: BNDES empresta menos para erguer novas usinas Índice | Comunicar Erros |
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