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Desvio no PanAmericano vem desde 2006
Há quatro anos foi feita aplicação em um CDB do banco a uma taxa três vezes superior à média de mercado
Banco Central suspeita que juros eram inflados artificialmente para camuflar o desvio de recursos da instituição
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A JUIZ DE FORA
A sangria de recursos no
PanAmericano ocorre desde
2006, segundo documentos
em posse do Ministério Público Estadual de Minas Gerais. Naquele ano, o empresário Adalberto Salgado Júnior aplicou R$ 3 milhões
num título da instituição financeira a uma taxa três vezes superior às de mercado.
Duas semanas atrás, a Folha revelou que o mesmo
empresário, de Juiz de Fora
(MG), mantinha como pessoa física R$ 400 milhões
num outro papel do banco
do grupo Silvio Santos, um
CDB (Certificado de Depósito
Bancário) que lhe rendia juros de 30% ao ano.
Técnicos do Banco Central
suspeitam que os juros desses investimentos eram inflados artificialmente para
camuflar o desvio de recursos da instituição.
No final do ano passado, a
Caixa Econômica Federal
comprou 35,54% do capital
do banco por R$ 739,2 milhões. Ou seja, quando o governo se tornou sócio do
apresentador de TV, fazia pelo menos três anos que um
suposto esquema para retirar dinheiro ilegalmente do
banco estava em curso.
Quando descoberta a remuneração exorbitante do
CDB de R$ 400 milhões, a diretoria demitida do PanAmericano deu dois argumentos
ao BC. Primeiro, disse que os
juros altos se deviam às dificuldades para captar recursos após a quebra do Banco
Santos, em 2004. A segunda
razão seria a crise financeira
internacional, em 2008.
Segundo uma autoridade
envolvida na investigação, a
remuneração atípica poderia
ocorrer por um período curto, numa situação adversa
para os bancos menores.
A descoberta da nova aplicação com rendimento acima do oferecido no mercado
(também CDB), contudo, implode os dois argumentos.
Ou seja, a prática era recorrente e se deu antes da crise
internacional.
TAXA GENEROSA
O Ministério Público iniciou a apuração do caso a
partir de uma comunicação
do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), feita em agosto de 2007.
Chamou a atenção do órgão a alta taxa de juros paga
pelo CDB do PanAmericano
emitido em março de 2006:
29,9% ao ano, contra a média
no mercado na ocasião de
11,5% -segundo um dos documentos da investigação.
O CDB é um instrumento
usado pelos bancos para
captar recursos. O investidor
empresta dinheiro ao banco
e recebe juros baseados no
CDI -taxa cobrada nas transações entre instituições financeiras. O CDI segue a taxa
básica da economia (Selic),
hoje em 10,75% ao ano.
Bancos pequenos e de médio porte, como o PanAmericano, costumam pagar juros
superiores ao CDI, dependendo do valor investido e do
prazo. Ainda assim, uma taxa generosa chega a aproximadamente 110% do CDI,
cerca de 11,5% ao ano.
No início do mês, a Caixa e
o BC realizaram uma espécie
de "intervenção branca" no
PanAmericano, após a identificação de um rombo de R$
2,5 bilhões na instituição.
A descoberta de uma aplicação tão extravagante somente após a intervenção é
indício de que a fiscalização
do BC cometeu falhas no caso do PanAmericano.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a fiscalização deveria ter notado o CDB,
no mínimo, pelo risco que o
pagamento de juros tão altos
significaria ao banco. Sem
contar o histórico do titular
da aplicação.
Adalberto já foi preso por
crime contra a ordem tributária em 1998. Acusado do mesmo crime, envolvendo suposta adulteração de combustível em seus postos, responde a duas ações penais
desde setembro passado na
Justiça de Minas Gerais.
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