São Paulo, terça-feira, 28 de dezembro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Previsão do tempo para Dilma


No final do ano, cresceu o otimismo sobre a economia mundial; presidente eleita ganhou tempo para respirar


AS OPINIÕES sobre o futuro próximo da economia mundial tornaram-se otimistas neste trimestre final de 2010. Agora mal se ouve falar de nova recessão nos EUA, embora o país se recupere da crise em um ritmo inferior ao de outras retomadas.
A Europa Ocidental parece presa a um crescimento lerdo, em torno de 1,5% ao ano, mas não desabou sob suas dívidas. Porém, jogou no lixo seus tratados econômicos, a discurseira sobre responsabilidade fiscal e o principismo do seu Banco Central. Foi assim que evitou a falência explícita de alguns países e o risco imediato de colapso do euro. Mas a eficiente Alemanha, turbinada por importações chinesas de bens de capital, concentra as alavancas do magro crescimento europeu.
A economia mundial encolhera cerca de 0,5% em 2009. Terá crescido mais de 4,5% ao final deste ano. Na média das previsões dos maiores bancos e consultorias públicas e privadas do planeta, deve crescer um pouco menos do que isso em 2011. Mas, dados exageros como o crescimento brasileiro de 2010, não se trata de nada preocupante, se confirmadas as estimativas.
A China, que ontem tomou mais medidas para segurar seu crescimento, deve continuar a correr entre 9% e 10%. A China é o farol da nossa economia ainda dependente de ondas de crescimento e de decisões estratégicas tomadas em outras partes do mundo. As decisões do conselho diretor da economia ditatorial de mercado da China deveriam ser acompanhadas tão de perto quanto as do nosso governo.
Ainda que se projete leve desaceleração na China, francamente ninguém entende bem os riscos de explosão dos seus excessos, imobiliários, bancários, de investimento etc.
É para esquecer, então, a ideia de que Dilma Rousseff encontrará um cenário externo menos benigno que o de Lula? Não exatamente, embora o ambiente pareça bem melhor do que o previsto em meados do ano.
A prevista estabilidade chinesa melhora os preços das nossas commodities de exportação, mas tal fato joga lenha na fogueira da inflação, e a economia já deu todos os sinais de que se aqueceu demais. A relativa estabilidade da economia mundial (sem desastres novos) e juros baixos por ainda um longo período (2012?) no mundo rico estimulam investimento de risco, especulação com commodities e, pois, mais fluxos de dinheiro para emergentes e para o Brasil, que, para piorar, terá o atrativo de juros mais altos em 2011. Em tese, isso deve manter o real caro, o que causa avarias à indústria, a depender do que acontecer na Ásia. Lá também os juros devem subir, haverá mais fluxo de capital, o que pode causar valorização das moedas da região.
Os riscos maiores visíveis, porém, ainda são os internos. Há excesso de consumo, endividamento público crescente via subsídios a empresas, de compras de reservas e menor superavit primário. Há escassez de decisão estratégica de redução dos custos de fazer negócios -nenhuma decisão estratégica em geral. Talvez Dilma tenha ganhado algum tempo com a melhora no clima econômico mundial. Mas a economia, que já não é máquina bem azeitada, está claramente no caminho da deterioração macroeconômica e estagnada no que diz respeito a melhorias de eficiência. Vamos esperar o tempo fechar para tomar alguma atitude?

vinit@uol.com.br


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