São Paulo, sábado, 30 de julho de 2011 |
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ANÁLISE É preciso resgatar fornecimento e fornecedores de cana MARCOS FAVA NEVES ESPECIAL PARA A FOLHA Parte da crise de abastecimento no setor de cana de açúcar resulta da insuficiente remuneração da atividade agrícola e dos fornecedores. Como consequência, a renovação dos canaviais foi de 5%, 8% e 10% nos últimos três anos -quando poderia se renovar até 18% ao ano. Se, nos canaviais de hoje, estivessem sendo produzidas mais 10 toneladas por hectare, seriam quase 80 milhões de toneladas a mais, que contribuiriam muito neste momento. O fornecimento e os fornecedores de cana precisam ser resgatados. Esse resgate será salutar. Hoje, cerca de dois terços da cana é produzida ou gerenciada pelas próprias usinas; o resto, por fornecedores. Mas isso deve mudar, pois entram na cana empresas vindas do setor de petróleo, tradings e outros, que terão menos incentivo para gerir as áreas agrícolas. Além disso, os custos de produção de cana, como de outras culturas no Brasil, vêm se elevando consideravelmente, bem como o preço das terras, o que aumenta a necessidade de imobilização. Paralelamente crescem empresas especializadas na atividade agrícola de cana, gerindo áreas e oferecendo serviços agrícolas a diversas usinas. Também crescem empresas especializadas em transporte, armazenagem, comercialização, empresas de serviços, agrodistribuidores e cooperativas. Tendo parceiros especializados para desenvolver e gerenciar as áreas agrícolas, o imobilizado para as usinas pode diminuir bastante, facilitando e financiando a expansão industrial. Investimentos integrados com fornecedores aliviariam também o peso dos greenfields nas áreas de expansão. Com o crescimento na confiança entre os agentes e os casos de sucesso hoje existentes, os modelos de terceirização da produção de cana ganharão espaço. Em locais onde foram feitos, houve crescimento econômico e desenvolvimento regional, com o surgimento de novos empreendedores e negócios. Para que essa relação tenha equilíbrio, inovação e eficiência, é preciso que o Consecana, um modelo de remuneração admirado mundialmente, esteja sempre sendo atualizado, considerando o mix de produtos gerados. O futuro reserva papel fundamental para associações e cooperativas em cana, para que os produtores possam ser bem representados ao dialogar com novas e grandes empresas industriais. Essas organizações precisam passar por processo de fusão e profissionalismo crescentes, se adaptando ao novo cenário. Especialistas em fornecimento de cana terão participação crescente na cadeia, que se transformará cada vez mais numa sofisticada rede contratual de produção e serviços, bem mais eficiente, flexível e com uso intenso de seus ativos (como máquinas). Afinal, nada como especialistas integrados em cada uma das atividades, inovando e aprendendo em diálogo constante. Por isso, resgatar os fornecedores de cana agora é uma ação estratégica alinhada com eficiência futura. MARCOS FAVA NEVES é professor titular na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat Texto Anterior: Commodities: Brasil quer exportar mais café torrado Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Algodão deve manter área na próxima safra Índice | Comunicar Erros |
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