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ANÁLISE
Manobra contábil "esconde" a real direção da política fiscal
BRÁULIO BORGES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O setor público consolidado não financeiro registrou
um superavit primário de
R$°27,8 bilhões em setembro
-resultado reforçado pela
operação de capitalização da
Petrobras. Não fosse essa
operação, teria sido apurado
um deficit primário de R$ 4
bilhões.
Nos 12 meses terminados
em setembro, o saldo primário do setor público consolidado foi de 3% do PIB, vindo
de 2% em agosto. Excluídas
as receitas líquidas com a capitalização da Petrobras, essa proporção teria se mantido em 2% no mês passado.
A manobra contábil associada à capitalização da Petrobras praticamente garante
um primário de 3% do PIB
em 2010 (contra 2,1% em
2009) e um deficit nominal
próximo de 2% do PIB (abaixo dos 3% exigidos para os
países do euro) -e isso é o
que interessa do ponto de
vista da solvência da dívida.
A manobra, no entanto,
"esconde" a real direção da
política fiscal do ponto de
vista do seu impacto sobre a
demanda agregada.
Uma coordenação entre as
políticas fiscal e monetária é
sempre desejável -mas não
foi isso que observamos nos
nove primeiros meses de
2010, em que o gasto real do
governo central cresceu 11%,
ritmo superior aos elevados
8% de alta estimados para o
PIB no período.
O juro básico e os compulsórios já subiram neste ano
-visando trazer o crescimento brasileiro para um ritmo
mais compatível com o cumprimento da meta de inflação- e caberia à política fiscal dar uma sinalização clara
na mesma direção.
Até mesmo porque, para
atacar de fato o problema do
câmbio excessivamente valorizado (as recentes elevações de tributos são apenas
um paliativo), seria necessário "apertar" a política fiscal
-movimento que foi apenas
esboçado no 3º trimestre-
para abrir espaço para uma
redução não inflacionária da
Selic.
Assim, diminuiria o diferencial de juros em relação
ao resto do mundo, diluindo
um forte fator de atração de
dólares.
BRÁULIO BORGES é economista-chefe da
LCA Consultores
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