São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2011

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ANÁLISE ETANOL

Mesmo com incentivo, tanques ficarão vazios no curto prazo

MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA

As medidas governamentais que visam incentivar o setor produtivo de álcool podem sinalizar um pequeno alívio no caixa das usinas e indicar possíveis investimentos para aumentar a produção. Não significam, no entanto, mais combustível no tanque dos carros brasileiros no curto prazo.
Esta e a próxima safras já estão com as produções comprometidas, e os consumidores podem se acostumar a preços mais elevados.
Parte dessa situação não depende da atuação do governo, mas de efeitos climáticos que reduziram a oferta de cana neste ano e comprometeram, em parte, também a do próximo ano.
Para inibir a alta de preços e reduzir as pressões sobre a inflação, o governo decidiu diminuir, de 25% para 20%, a mistura de álcool anidro à gasolina a partir de 1º de outubro. Isso deverá elevar a oferta de álcool hidratado.
O governo tem poder de decisão sobre a gasolina -e joga os custos para a Petrobras-, o que não ocorre com o álcool hidratado. Gasolina "congelada" e hidratado subindo menos significam menos peso inflacionário.
O cenário atual tem a ver, no entanto, com o governo, que já deveria ter feito ajustes no setor desde o segundo semestre de 2010, quando tudo indicava para essa situação de escassez no mercado.
Estabilidade nos preços da gasolina há muito tempo e a ausência de compensações tributárias no álcool fizeram com que o derivado da cana perdesse valor na cadeia produtiva.
As exportações continuam e os preços internos não são remuneradores.
As usinas lucram 41% mais com o açúcar do que com o anidro. A relação de ganho com o hidratado é maior: 54%. Os dados são do Cepea, que mostram, ainda, que o anidro rende 8% mais do que o hidratado para as usinas.
As medidas do governo são boas para criar um melhor ambiente de produção no futuro e trazer investimentos.
Entre o momento em que as empresas decidem por novos investimentos até o da oferta de álcool no mercado são vários anos, no entanto. Ou seja, o país vai continuar com dificuldade de abastecimento no mercado interno nos próximos anos e longe do mercado externo.
Mesmo assim, a indústria automobilística diz que a produção de carros flex vai manter o curso, sem freio na produção. O problema será ter álcool suficiente para encher esses tanques.


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