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Depoimento / Coreia do Norte

Culto à personalidade sustenta a ditadura

"Querido Líder" é adorado cegamente em um país cheio de privações e em que a fome já matou até 3 milhões

SÉRGIO RANGEL
RIO

O "Querido Líder" Kim Jong-il é tratado com uma adoração quase religiosa na Coreia do Norte. Assim como o seu pai, Kim Il-sung, o "Pai da Nação", morto em 1994, ele é praticamente onipresente no país.

Na capital, Pyongyang, a imagem do General Glorioso que Desceu do Céu, como também era chamado, está estampada em pinturas, mosaicos e estátuas espalhadas por toda parte. Nas paredes das casas, fotos de Jong-il e de seu pai são tradição.

O culto à personalidade é uma das bases de sustentação política de uma das mais longas ditaduras do planeta. O Querido Líder é adorado cegamente em um país cheio de privações -a população local convive com apagões diários, e a escassez crônica de alimentos já matou até 3 milhões de pessoas.

A vida de Jong-il era cercada de mistério e de cuidados até mesmo na capital.

Em abril do ano passado, participei de uma festa em Pyongyang com a presença do ditador.

Quatro horas depois de desembarcar na cidade e de uma maratona aérea, fui levado por dois guias do governo a uma das mais "belas comemorações do planeta", segundo eles.

A festa seria o ponto de partida da celebração pelos 98 anos do nascimento do pai de Jong-il numa das margens do principal rio da cidade.

Os guias diziam com entusiasmo que o show de fogos e luzes seria uma oportunidade "única de ver a Estrela Guia do Século 21", outro título dado ao ditador pelo seu próprio regime.

Fiquei a menos de 200 metros do ditador, mas não consegui enxergá-lo. Tentei me aproximar do político, mas fui impedido pelos meus guias, que controlaram os meus passos durante os sete dias em que estive no país.

Jong-il chegou em cima da hora e deixou a área reservada para as autoridades cercado por dezenas de militares. Durante os deslocamentos do ditador pela margem do rio, os milhares de espectadores foram obrigados a ficar parados em seus lugares.

Depois que a comitiva do ditador passou, cruzei com dezenas de norte-coreanos emocionados por terem visto o ditador. Alguns choravam. Ninguém o fotografou.

O corpo do Querido Líder ficará no Palácio do Sol, onde também está o mausoléu do Pai da Nação.

Lá, os visitantes veneram o corpo de Il-sung, que continua em exposição para visitação pública.

Em breve, o corpo de Jong-il estará próximo do corpo de seu pai.

Segundo a versão oficial, os dois "continuarão trabalhando pela nação".

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