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Romney é o favorito que republicanos não queriam

58% dos eleitores da sigla gostariam de ter alternativa, segundo pesquisa

Maioria, porém, vê pré-candidato a concorrer com Obama como a única opção aceitável entre as existentes

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

A única constante na longa e frenética corrida à Casa Branca neste ano tem sido o favoritismo de Mitt Romney (só ou partilhado) para ser o candidato republicano. Nem as duas vitórias nos dois Estados que votaram até agora, porém, garantem ao ex-governador de Massachusetts caminho livre até lá.

Antes da convenção do partido que, em agosto, elegerá o candidato, há o complexo sistema de prévias estaduais que se arrasta até 26 de junho, em Utah. Em cada uma, o vencedor (ou vencedores, conforme o Estado) coleta um lote de votos a seu favor na convenção.

Matematicamente, é impossível obter os 1.144 votos necessários para conquistar a candidatura antes do fim de março. É tempo suficiente para os rivais que se revezam em disputar com Romney o topo das pesquisas explorarem seu telhado de vidro.

As vulnerabilidades são tantas quanto as dúvidas do eleitor (ele é o único no páreo aceitável para mais da metade dos republicanos, segundo o Gallup, mas levantamento da rede CBS mostra que 58% dos eleitores do partido preferiam outra pessoa).

Tampouco é pequena a disposição de seus maiores rivais -o ex-presidente da Câmara Newt Gingrich, o ex-senador Rick Santorum e o deputado do Texas Ron Paul.

"Romney está bem posicionado para conquistar a candidatura", escreve William Galston, um ex-assessor de Bill Clinton (1993-2001) hoje no centro de estudos Brookings. "A má notícia é que, com a prévia em New Hampshire [sua segunda vitória, no dia 10], veio uma onda de ataques que pode prejudicar seriamente suas chances."

DINHEIRO E DEUS

A principal frente de ataque é a Bain Capital, uma firma de Boston que "reforma" empresas à beira da falência -compra, enxuga e revende.

Romney cita a experiência à frente da empresa nos anos 80 e 90 como credencial para sanitizar problemas econômicos. Na sua versão, ele é um criador de empregos porque, ao evitar falências, a Bain "salvou" 100 mil.

Os rivais, porém, lembram em discursos e onipresentes comerciais de TV que a Bain demitia boa parte do quadro das empresas que comprava. "Um urubu capitalista", diz um dos adversários, o governador do Texas Rick Perry.

A expressão pode cair mal na ala mais à direita, mas a palavra "demissão", em tempos de crise, é cáustica para um eleitorado que tem no desemprego seu maior medo.

"Os ataques minam a essência da 'marca' Romney", escreve o estatístico Nate Silver, que acertou quase todos os resultados em 2008, em seu blog no "New York Times". "Afinal, ele fez de sua experiência no setor privado bandeira de campanha."

A Bain preocupa porque serve de munição a Obama, mas até lá Romney tem de sufocar um fantasma que o assombra há mais tempo: o plano estadual de saúde que implantou quando governou Massachussets (2003-07).

Mais generoso do que a média americana, o programa inspirou o plano federal de Obama, abominado na direita. O "RomneyCare" tem 777 mil menções no Google, quase sempre negativas.

Não bastassem os rivais, Romney enfrenta ele mesmo.

Criado em família rica da elite política americana, o ex-governador pena para conquistar a empatia do eleitor de classe média e média baixa, que não se identifica com o sujeito de penteado impecável e fortuna estimada em US$ 200 milhões.

Gingrich, que como Santorum, Perry e Paul adora lembrar o passado modesto, já caçoa de seu francês (o berço aristocrático, para alguns analistas, custou a outro político de Massachusetts, John Kerry, a eleição de 2004, que foi para George W. Bush).

A falta de carisma e aparente frieza lhe rendem apelidos como "leite azedo" e capas de revista como a da "Time", indagando "Por que ninguém me ama?".

Por fim, há Deus. Romney é mórmon, denominação cristã nascida no século 19 que, embora conte 3 milhões de adeptos adultos no país, é alvo de preconceito -sobretudo na numerosa comunidade evangélica que serve de pilar aos republicanos.

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