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Libertada jovem presa por dez anos pelo pai

Palestina mantida em cativeiro desde os 10 só saía de cômodo escuro para limpar a casa

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Uma jovem que ficou mantida presa pelo pai em cômodos apertados e escuros por cerca de dez anos foi libertada no último sábado pela polícia palestina em um vilarejo da Cisjordânia.

Baraa Melhem, hoje com 20 anos, passou toda a adolescência trancada em banheiros ou em cubículos de cerca de 1 metro quadrado, de onde só era libertada à noite, para limpar a casa.

A menina foi encontrada por meio de uma denúncia anônima em Qalqilya, próximo a Ramallah. Na última década, a família se mudou pelo menos duas vezes. A menina foi mantida em condições desumanas em todas as casas.

O pai, o árabe israelense Hassan Melhem, 49, foi preso e deve comparecer a um tribunal israelense amanhã, para dar explicações. Ele tinha a custódia da filha desde que se divorciou da mãe de Baraa, Maysoun, quando a menina tinha quatro anos.

Aos dez, a garota fugiu de casa e, ao ser levada de volta pela polícia, o pai a obrigou a assinar uma carta dizendo que não queria voltar à escola. Sua primeira "cela" foi um banheiro da casa.

Desde então, foi agredida e mal alimentada pelo pai e a madrasta, que lhe davam apenas uma maçã por dia. Recebeu deles um cobertor, uma gilete -com a qual era incentivada por ambos a se matar- e um rádio, sua única distração, além dos sonhos de ver novamente o sol.

Chegou a pensar em fugir, mas as ameaças do pai, de que a violentaria se tentasse, a impediram.

"Medo, medo, medo -essa era a base da minha vida", disse Baraa à Associated Press, na casa de sua mãe, para onde foi levada após sua libertação. Para ela, o novo quarto, com uma grande janela e cortinas rosas, é o "paraíso".

"Se você sempre foi livre, não dá valor a isso. Para alguém como eu, que experimentou a amargura de uma prisão, isso é o paraíso."

A jovem, porém, disse à polícia que não era a única a sofrer nas mãos do pai. Os meio-irmãos, que teriam problemas mentais, não podiam sair de casa quando o pai não estivesse e não foram à escola.

A mãe, que foi morar em outra cidade após a separação, disse que sempre procurava informações sobre a filha, mas o ex-marido inventava desculpas sobre a menina.

Depois de tudo o que passou, no entanto, Baraa diz não sentir raiva do pai. "Eu não odeio meu pai. Odeio o que ele me fez. Por que ele fez isso? Eu não entendo."

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