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Em Davos, América Latina é vista como exemplo

Crescimento de 3,6% projetado para este ano mostra o subcontinente mais forte que a Europa

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Osman Ulagay, editor e colunista-sênior do jornal turco "Milliyet", cruza no elevador com o enviado especial da Folha, ambos veteranos na cobertura do Fórum de Davos. Comenta Ulugay:

"Lembra-se que, há não muito tempo, Brasil e Turquia eram citados aqui em Davos como sinônimos de instabilidade e crise? Como as coisas mudaram, hein?".

O colunista turco tem razão, mas os muitos anos de confusão e instabilidade parecem ter deixado marcas duradouras nos sentimentos dos latino-americanos, mesmo quando a palavra crise não está associada à região.

Foi o que ficou evidente ontem, durante debate sobre "o novo contexto na América Latina", como parte do encontro anual 2012 do Fórum Econômico Mundial.

Os debatedores preferiram pôr o acento no óbvio: se a crise europeia desencadear um retrocesso global, a América Latina sofrerá junto com o resto do mundo. Ou seja, não há mais autoridades ou acadêmicos dispostos a repetir a frase do então presidente Lula sobre a "marolinha".

Não obstante, até haveria elementos objetivos, igualmente mencionados na discussão, mas com certo pudor, para prever que, desta vez, a "marolinha" não é uma tese voluntarista.

Primeiro, a região "está mais focada agora no mercado doméstico", como disse Maurício Cárdenas, ministro de Minas e Energia da Colômbia. Ou seja, será menos afetada por uma das vias de contágio da crise, que é a queda nas exportações.

Segundo, o sistema financeiro é sólido. "Nenhum país latino-americano sofreu uma crise financeira doméstica", lembrou Guillermo Ortiz, com a autoridade de quem foi presidente do banco central mexicano. Lembrou ainda que a banca latino-americana não tem em suas carteiras os ativos tóxicos que entupiram as veias do sistema financeiro norte-americano e europeu, problema que ainda não foi resolvido.

Sem falar no fato de que a América Latina fez as reformas que agora se recomendam especialmente à Europa, como disse Enrique Iglesias, secretário-geral da Comunidade Iberoamericana, talvez a pessoa que mais conheça o subcontinente, por ter sido da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) e presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

É claro que haverá contágio de uma crise mais profunda na Europa, por dois caminhos: a retração na demanda por commodities e o crescimento da aversão ao risco -ou seja, a investir em regiões que ainda não têm a solidez das economias consolidadas.

Mas, diante do panorama desenhado em Davos, fica razoável a projeção do Fundo Monetário Internacional de que a região crescerá neste ano 3,6% em vez dos 4% antes previstos. O Brasil, por sua vez, crescerá 3%.

Não são números luminosos, mas comparados ao crescimento zero de 2009, quando o país sentiu todo o impacto da crise iniciada no ano anterior, até daria para dizer que será uma "marolinha" -ainda mais ante os dados da Europa, às portas de uma nova recessão.

Mesmo assim, os latino-americanos olham desconfiados para os desdobramentos da crise global, como se o passado lhes pesasse mais do que o presente.

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