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Opinião tragédias Corrupção explica diferença na reconstrução entre Rio e Japão Quase simultâneas, tragédias têm realidades bem diferentes 1 ano depois VAGUINALDO MARINHEIRODE SÃO PAULO Janeiro de 2011. Chuvas na região serrana do Rio provocam a maior tragédia natural da história do Brasil -mais de 900 morrem. Um ano depois, pouca coisa foi feita. Obras para prevenir enchentes e deslizamentos ficaram no papel, e a reconstrução anda em ritmo muito lento. Ainda hoje há famílias desabrigadas à espera de moradias prometidas pelo poder público ou em casas condenadas pela Defesa Civil. O contraste com o Japão é gritante. A destruição lá foi bem maior (mais de 15 mil mortos), mas muito já foi refeito. A antropologia/sociologia de botequim irá logo dizer que isso ocorre porque os japoneses formam um povo trabalhador, com senso de comunidade, que sofreu com a guerra e sabe se reerguer. Os brasileiros, por outro lado, são preguiçosos, ficam à espera da ajuda dos outros, deixam tudo para amanhã. É a síndrome de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter da obra de Mário de Andrade. "Grande bobagem", afirma Adrián Gurza Lavalle, autor de "Vida Pública e Identidade Nacional". "Atribuir a uma suposta identidade brasileira a dificuldade em lidar com determinadas coisas, como uma tragédia, é uma forma de não ir atrás do que realmente está errado." Essa imagem do brasileiro como um povo inferior estava muito presente na literatura e em obras acadêmicas até a primeira metade do século passado, quando intelectuais buscavam definir a identidade da população. A tragédia no Rio expõe problema de outra natureza. Em duas das sete cidades atingidas (Nova Friburgo e Teresópolis), os prefeitos foram afastados sob acusação de desviar verba que deveria ser usada nas reconstruções. Trata-se de crime. Macunaíma e sua preguiça não têm nada a ver com isso. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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