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Autora faz "biografia" de grupo peronista base do "cristinismo"

"La Cámpora", que inclui filho de Cristina Kirchner, tem papel central no governo argentino

Cúpula ocupa cargos públicos e em estatais; para autora, presidente buscará no movimento seu herdeiro político

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Conspiração, paixão, luta e morte. Por enquanto curta, a história do grupo juvenil argentino La Cámpora já tem elementos de um romance.

Em "La Cámpora - História Secreta dos Herdeiros de Néstor e Cristina Kirchner" (ed. Sudamericana), a jornalista Laura di Marco narra desde a fundação do grupo, em 2003, até sua transformação em principal personagem político do atual governo.

"Vemos o mais novo capítulo da saga familiar peronista. Vieram Perón e Evita, depois os Montoneros, agora Cristina e La Cámpora", diz a autora à Folha.

A história começa durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007). O então presidente gostava de se reunir com jovens engajados. Quando Kirchner morre subitamente, em 2010, os jovens ganham força, pois Cristina prefere se apoiar neles no lugar de aliados tradicionais do peronismo, como os sindicatos.

"São seus filhos políticos. Ao mesmo tempo em que lhe dão apoio, não ameaçam seu poder agora." Para a jornalista, a Cámpora iniciou uma nova etapa do peronismo, que chama de "cristinismo".

O grupo é formado por filhos de desaparecidos políticos durante a última ditadura (1976-1983) e ex-líderes universitários dos anos 1990. Para fazer parte, é sugerido que se doe 10% do salário.

O nome é uma homenagem a Héctor Cámpora (1909-1980), presidente peronista que entrou para a história por renunciar e permitir o retorno do general Juan Domingo Perón do exílio, em 1973.

Hoje, os jovens ocupam postos importantes de empresas estatais, como a presidência da Aerolíneas Argentinas, e cargos públicos. São da Cámpora o vice-ministro da Economia, Axel Kicillof, e o diretor da Anses (o INSS argentino), Diego Bossio.

Em 2011, o grupo elegeu dez deputados nacionais e um terço do parlamento da Província de Buenos Aires.

Em termos de ideologia, definem-se como peronistas de esquerda, inimigos do "neoliberalismo" e defensores da estatização de empresas e recursos. "A visão que eles têm é de que a ditadura desmantelou a estrutura industrial na Argentina e só o kirchnerismo pode reerguê-la."

A cúpula do grupo é formada por poucos integrantes, entre eles Eduardo de Pedro, que veio do grupo H.I.J.O.S., Juan Cabandié, que nasceu na ESMA, centro de detenção da ditadura, e Máximo Kirchner, filho da presidente e fundador da Cámpora.

"Não é uma estrutura democrática. Há rigidez e patrulhas das ações. É um comportamento anacrônico, meio stalinista", diz ela.

O grupo não dá entrevistas, mas é muito midiático e animado. Fazem festas e, nas manifestações, levam bandeiras e cantam suas criativas letras de apoio ao governo. Também atuam na internet, com um verdadeiro exército de blogueiros.

Bons de marketing, criaram para si mesmos uma bandeira, que traz Néstor vestido de Eternauta, um personagem de HQs que fazia referência às lutas dos tempos da ditadura. Também foi nos bastidores da Cámpora que se criaram as importantes vinhetas de propaganda do governo, como a já célebre "Clarín miente" [Clarín mente].

No ano passado, perderam um de seus quadros mais importantes, o economista Ivan Heyn, que morreu em decorrência de um acidente enquanto praticava um jogo sexual, sozinho, num quarto de hotel em Montevidéu.

Heyn atravessava uma fase de conflito com a cúpula do grupo. Di Marco crê que sua morte teve um ingrediente político. "Ele se expôs de forma suicida. Sentia-se isolado entre os líderes e estava deprimido. Defendia uma maior abertura da Cámpora, e não estava sendo ouvido."

A Cámpora evoca os montoneros, grupo de guerrilha urbana dos anos 1970. "Não creio que partam para uma solução violenta. Cultivam as músicas e a simbologia daquela época, mas não têm razões para pegar em armas."

O próximo presidente argentino sairá da Cámpora? "É muito provável. Cristina quer formar um desses jovens, são a continuidade do governo."

LA CÁMPORA
AUTORA Laura di Marco
EDITORA Sudamericana
QUANTO 62 pesos; 395 págs.

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