Análise

Pela 1ª vez, país terá candidatos que nunca serviram o Exército

Pela primeira vez na história, os eleitores americanos vão escolher para presidi-los entre dois homens que nunca fizeram serviço militar.

Barack Obama, 51, 44º presidente, foi o primeiro candidato presidencial a ter completado 18 anos depois que o alistamento obrigatório deixou de vigorar, e ele nunca se alistou voluntariamente.

Mitt Romney, 65, conseguiu ser dispensado do serviço militar na década de 1960, em plena Guerra do Vietnã, porque as Forças Armadas isentavam jovens engajados em trabalhos religiosos, e ele foi por dois anos e meio missionário mórmon na França.

A eleição de 2012 também será a primeira em que nenhum dos dois principais nomes terá sido formado por família ligada a denominação protestante tradicional.

A mãe de Obama era agnóstica; o pai, de quem se separou aos dois anos, ateu; o padrasto, com quem viveu dos seis aos dez, muçulmano não praticante; os avós, com quem morou dos 10 aos 18, não frequentavam igreja; aos 27 anos, Obama foi batizado numa igreja protestante negra, a Trinity United Church.

Romney é de uma família da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, hoje plenamente aceita como denominação legítima, mas que sofreu grandes perseguições nos EUA por décadas, após sua formação em 1820; nunca antes um mórmon fora candidato à Presidência.

Mais excepcional ainda na biografia dos virtuais candidatos (eles precisam ser formalmente escolhidos em convenções partidárias) é terem tido ancestrais polígamos.

O avô paterno de Obama, muçulmano no Quênia, tinha quatro mulheres simultâneas. O pai de Obama era tecnicamente bígamo, pois não se divorciara da primeira mulher, deixada na África, quando se casou, já nos EUA, com a mãe do atual presidente.

Os dois bisavós de Romney também tiveram várias mulheres ao mesmo tempo, no século 19, quando a igreja aceitava a poligamia, vetada em 1890. Os avós de Romney foram monogâmicos.

Outra situação sem precedentes é que os pais dos dois nasceram fora dos EUA: o de Obama no Quênia e o de Romney no México, onde sua família viveu por décadas.

Num país em que religiosidade e temas militares têm sido tão importantes na política e imigração é assunto divisivo, esses detalhes biográficos são desconcertantes.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é editor da revista "Política Externa" e autor de "Correspondente Internacional".