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Julia Sweig

Equilíbrio entre mercado e Estado

Livro de Rothkopf mostra que nações não podem decidir sobre economia sem enfrentar corporações

Os efeitos da crise financeira global de 2008-2009 permanecem. Não só no desemprego, na crise de dívida e no aumento do populismo na Europa, mas também na discussão antes dormente sobre capitalismo e o Estado. Soa como uma palestra marxista? Não desta vez.

A deterioração do contrato social americano do século 20 e a crise na Europa abriram à força uma das perguntas mais importantes do século 21: qual é o equilíbrio apropriado entre o mercado e o Estado?

Não existe uma resposta apenas. Como demonstraram as reuniões recentes do FMI e do Banco Mundial, tampouco há um consenso em relação a como os Estados soberanos sócios das instituições multilaterais, mas também independentes, devem coordenar suas políticas para aliviar as crises financeiras.

Para se ter uma ideia do porquê de as maiores economias ainda não terem convergido, um livro brilhante e ambicioso oferece insights penetrantes: "Power, Inc.," de David Rothkopf.

A premissa básica de Rothkopf, editor-geral da revista "Foreign Policy", é que Estados-nações, pelo menos em sua maioria, não podem tomar as decisões soberanas sobre as políticas financeiras, econômicas e globais de que seus cidadãos necessitam sem enfrentar o enorme poder de mercado de grandes corporações cujos lucros e autonomia superam a maioria dos PIBs.

Para ele, precisamos analisar de modo menos ideológico os modelos de capitalismo que procuram administrar o dinamismo dos mercados sem sufocar seus benefícios.

A mensagem dele é especialmente relevante para os EUA, onde o fundamentalismo de mercado dos anos 90 alimentou um frenesi de consequências explosivas para a decadência da classe média de hoje e da infraestrutura e do capital humano do país.

Entre os cinco capitalismos que Rothkopf descreve, o "capitalismo de desenvolvimento democrático" pode ser visto hoje no Brasil. Rothkopf escreve que o Brasil possui um misto apropriado "entre governo ativista e um respeito pelo poder dos mercados".

Rothkopf tem estado entre os defensores do Brasil -por suas políticas externas, que conseguiram criar espaço e legitimidade para potências emergentes, e pela matriz energética limpa do Brasil, por exemplo.

Ele também faz algumas recomendações cautelares. Uma anedota sobre a Petrobras ilustra as complexidades que são inerentes à definição de prioridades para uma enorme empresa global que é regida tanto por acionistas particulares quanto por prerrogativas de política pública. Podem os "campeões nacionais" do Brasil também se tornar os gigantes globais que não prestam contas a ninguém, contra os quais Rothkopf nos acautela?

Décadas antes do movimento "Ocupe Wall Street", o slogan "capitalismo com rosto humano" capturou as aspirações de pessoas preocupadas com o social. As reuniões do FMI e do Banco Mundial mostraram os muitos rostos dos capitalismos. Mas nenhum deles pareceu muito feliz. Será que a escuridão é permanente? Os 800 anos de história cobertos neste livro erudito sugerem que ainda temos escolha.

JULIA SWEIG é diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations

AMANHÃ EM "MUNDO"

Clóvis Rossi

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