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Análise Crise Europeia

Líderes precisam enfrentar crise de legitimidade

Problemas dizem respeito à capacidade dos partidos de preservar espinha dorsal do Estado de bem-estar social

TONY BARBER
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES

Na narrativa reconfortante sobre a crise que é feita na Europa, o crash financeiro de 2008 foi importado dos EUA, terra de banqueiros insensatos e devedores de hipotecas de alto risco tão ignorantes quanto o ex-presidente republicano Bush. O mito dos "outros estúpidos de além-mar" atendeu a um objetivo no projeto europeu de construção de uma identidade supranacional comum.

Infelizmente, nenhum mito pode tomar o lugar das realidades políticas e econômicas por muito tempo. A realidade de hoje é que o crash financeiro está ativando uma crise de legitimidade no sistema político da Europa.

Essa crise vai além dos deficits fiscais e da turbulência do mercado que os governos da União Europeia vêm enfrentando e da dúvida sobre a sobrevivência da união monetária ou da própria UE.

Ela diz respeito à capacidade dos partidos de convencer os eleitores de que poderão garantir empregos, salários, estabilidade financeira e crescimento suficientes para preservar a espinha dorsal do Estado de bem-estar social.

De modo geral, isso é o que os partidos vêm fazendo e pelo qual vêm sendo recompensados desde os anos 50.

Agora essa paisagem está se modificando. Em alguns países que estão implementando a austeridade rígida e em outros que mal a estão praticando, os eleitores estão começando a perder fé no sistema político partidário.

Tomem-se as performances de Marine Le Pen, líder da anti-imigrante Frente Nacional, e Jean-Luc Mélenchon, o esquerdista com apoio dos comunistas, no primeiro turno da eleição presidencial francesa. Quase um em cada três franceses votou em um desses extremistas, apesar das propostas insensatas deles para fazer frente à crise.

O caso holandês é mais revelador. O colapso da coalizão governante se deve a dois fatores. Um foi o impasse entre os partidos sobre como alcançar as metas de deficit ditadas pela UE. O outro foi a força do Partido da Liberdade de Geert Wilders, antieuro e antiestablishment.

Em outros países, o afastamento de governos incompetentes, mas democraticamente eleitos, está tendo efeitos profundos sobre as atitudes públicas.

Seria possível argumentar que mesmo um sistema político em completa desintegração é melhor que um em que, como na Itália, um ex-premiê bilionário é submetido a julgamento no qual precisa explicar por que convidados em suas festas se fantasiavam de enfermeiras ou policiais.

Mas resta a questão maior. Quanto mais a crise da dívida erode o contrato social da Europa moderna do pós-guerra, menos confiança o eleitor terá num sistema político que é visto como descumprindo sua parte do acordo.

Tradução de CLARA ALLAIN

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