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Egito faz 2º turno para presidente sob crise

Votação hoje e amanhã ocorre após a dissolução do Parlamento, na quinta

Embate nas urnas se dá entre a Irmandade Muçulmana e os aliados do antigo regime, que são opostos ideológicos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Profundamente divididos e mergulhados em instabilidade política, os egípcios vão hoje às urnas para definir quem será o primeiro presidente do país após a renúncia do ex-ditador Hosi Mubarak, há um ano e meio.

O que era para ser o último capítulo da transição para a democracia promete ser o início de nova batalha entre as duas principais forças políticas do Egito, a Irmandade Muçulmana e os aliados do antigo regime.

Seja quem for o vencedor, dificilmente será capaz de retomar o raro consenso obtido durante os 18 dias de protestos, no início de 2011, que levaram à queda de Mubarak.

O decisivo segundo turno da eleição, hoje e amanhã, põe em confronto representantes de extremos ideológicos: de um lado, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana; do outro, Ahmed Shafiq, ex-comandante militar e último premiê de Mubarak.

Nenhum dos dois incorpora o ideal democrático sonhado pelos jovens que lideraram os protestos na praça Tahrir, epicentro da revolta contra a ditadura Mubarak.

A desilusão com a revolução inacabada já era evidente entre os jovens ativistas, mas a gota d'água veio anteontem, quando a Suprema Corte do país decretou a dissolução do Parlamento.

Após meses de turbulência, muitos parecem vencidos pelo cansaço. Um protesto convocado para ontem por grupos jovens levou pouca gente à praça Tahrir.

"O Egito testemunhou o mais suave dos golpes", tuitou o ativista de direitos humanos Hossam Bahgat. "Ficaríamos indignados se não estivéssemos tão exaustos."

O terremoto político atingiu sobretudo a Irmandade Muçulmana, cujo partido, Liberdade e Justiça, havia conquistado quase metade do Parlamento nas eleições do início do ano.

Formada por juízes nomeados por Mubarak, a corte é acusada pelos opositores do antigo regime de servir aos interesses da junta militar que assumiu o poder após a saída do ex-ditador.

"É o jogo de pressão e chantagem dos militares para continuar no poder", disse Ahmed Rabia, porta-voz do Liberdade e Justiça.

Ontem, a Irmandade Muçulmana afirmou que, sem Parlamento e Constituição, o país caminha perigosamente de volta à ditadura militar.

Entretanto, o partido acatou a decisão da corte e evitou convocar protestos, mantendo as apostas numa vitória na eleição presidencial.

A chegada da Irmandade Muçulmana à Presidência do Egito seria um triunfo histórico para o movimento nascido no país em 1928 e considerado o pai do islã político.

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