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Eleições EUA

Por falta de acordo, EUA ameaçam cair em "abismo fiscal"

Disputa no Congresso pode levar à subida de impostos e corte de gastos que vão tirar US$ 550 bi da economia

Caso republicanos e democratas não se entendam até 31/12, passa a valer antipacote de estímulo automático

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Enquanto vários países tentam reaquecer suas economias, os EUA estão prestes a adotar um "antipacote de estímulo" que pode arrastar o mundo de volta para uma recessão.

No próximo dia 31/12, por falta de acordo no Congresso, os EUA podem cair no chamado "abismo fiscal" -uma combinação de elevação de impostos e corte de gastos do governo que vai retirar cerca de US$ 550 bilhões da economia em 2013, cerca de 3,5% do PIB americano.

O antipacote americano é três vezes maior que o pacote de estímulo recém-anunciado pela China, de US$ 160 bilhões, e 14 vezes o pacote de R$ 80 bilhões de infraestrutura anunciado pela presidente Dilma Rousseff.

O presidente do Fed (BC dos EUA), Ben Bernanke, anunciou nesta semana que o país fará novo afrouxamento monetário (o QE3) para estimular a atividade, injetando US$ 85 bilhões na economia por mês até o fim do ano.

Para analistas, contudo, o abismo fiscal mais do que anula qualquer tentativa do Fed de aquecer a economia.

QUEDA DO PIB

Na previsão do Congressional Budget Office, agência apartidária ligada ao Congresso, o antipacote vai derrubar o crescimento do PIB americano para -0,5% entre o quarto trimestre de 2012 e o quarto trimestre de 2013 e eliminar 2 milhões de empregos.

Mas como os EUA chegaram à beira desse precipício?

Os cortes de impostos criados por George W. Bush expiram dia 31 de dezembro. Os republicanos queriam prorrogá-los para todos os contribuintes. Os democratas queriam que os impostos aumentassem para os mais ricos. Não chegaram a um acordo.

O "gatilho automático" de corte de gastos do governo também entra em vigor na virada do ano. Ele teve origem no imbróglio da elevação do teto da dívida americana, em agosto de 2011.

Republicanos e democratas não conseguiam chegar a um acordo para aprovar a lei que aumenta o limite do endividamento e se arriscavam a não honrar mais seus compromissos.

Os republicanos concordaram em elevar o teto, com uma condição: até novembro de 2011, os legisladores teriam de costurar um pacote de cortes de despesas para reduzir o deficit do Orçamento.

Caso contrário, seria adotado o temido "gatilho": seriam feitos cortes indiscriminados, sendo a metade deles em Defesa, vaca sagrada dos republicanos, e o resto em programas domésticos, heresia para os democratas. Foi o que ocorreu.

Além do fim dos cortes de Bush e do gatilho, há outras medidas de aperto fiscal no início do ano.

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, advertiu que o abismo é "um dos maiores riscos para a economia mundial".

E, mesmo antes de se concretizar, já afeta a atividade.

"Muitas empresas estão adiando investimentos por causa da incerteza", disse à Folha Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial.

Por outro lado, simplesmente evitar todo o aperto fiscal significaria que os EUA seguiriam numa trajetória insustentável de deficit e dívida. Por isso, alguns economistas avaliam que o abismo seria um remédio amargo, mas eficaz a longo prazo.

A aposta é que o Congresso, altamente polarizado, não vai conseguir chegar a um acordo para evitar o precipício antes de 31 de dezembro.

Mas a percepção entre analistas é a de que os legisladores vão dar um jeito para a catástrofe não ser completa.

Uma possibilidade é criarem reduções de impostos que substituam parte dos cortes de Bush, ou outras medidas de estímulo que contrabalancem o "abismo".

"Mesmo assim, o crescimento no ano que vem não deve passar de 1%", disse à Folha Bill Cline, pesquisador do Peterson Institute for International Economics.

E, logo depois desse sufoco, virá outro: a dívida pública americana deve bater no limite legal novamente no início do ano que vem, desencadeando uma nova queda de braço entre republicanos e democratas.

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