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China intimida vizinhos e desafia os EUA

Mais armado e agressivo, país eleva gasto militar em ritmo maior que o da economia e se envolve em atritos na Ásia

Apesar das tensões na região, analistas não veem perspectiva de confronto; ideia, dizem, é 'vencer sem lutar'

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
ERIC VANDEN BUSSCHE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PEQUIM

Cada vez mais agressiva nas disputas territoriais, a China vem aumentando seus gastos militares num ritmo ainda maior do que o da economia. O poderio ainda está longe de fazer frente aos EUA, mas intimida países vizinhos.

Só neste ano, a China se envolveu em três atritos com países vizinhos em torno de limites fronteiriços. Em abril, barcos pesqueiros chineses foram cercados por barcos de vigilância filipinos das ilhotas Scarborough, disputadas pelos dois países.

A China enviou em seguida duas embarcações para proteger os pescadores, gerando um impasse em alto-mar. Durante dois meses, os barcos ficaram parados na área à espera de um suado acordo diplomático.

Em junho, a China anunciou o estabelecimento de uma cidade, Sansha, numa região marítima em disputa com o Vietnã, horas após Hanói ter aprovado uma lei exigindo que os barcos estrangeiros na área se registrassem com autoridades vietnamitas.

A crise mais recente foi com o Japão, com quem Pequim disputa a soberania das ilhas Senkaku/Diaoyu, hoje administradas por Tóquio.

O anúncio da compra das ilhas pelo Japão causou dura reação de Pequim, que, entre outras medidas, realizou três incursões com barcos de patrulha nas águas disputadas.

Embora as crescentes tensões territoriais entre Pequim e seus vizinhos nos mares da China provavelmente não gerarão confrontos militares, análises recentes, como um estudo da ONG International Crisis Group, apontam que as "tensões continuam subindo, enquanto a perspectiva de resolução parece diminuir".

Apesar dos investimentos maciços, analistas ocidentais creem que o regime chinês tenha consciência das limitações de suas Forças Armadas, principalmente num eventual confronto com os EUA.

Pequim ainda é dependente de tecnologia estrangeira na área militar, e seu Exército não entra numa zona de combate desde a breve guerra com o Vietnã, em 1979.

"A China não quer começar uma guerra, mas procura exercer o seu crescente poderio militar para 'vencer sem lutar'", disse Andrew Erickson, especialista em China na US Naval War College, à BBC.

As diretrizes do regime chinês em relação às Forças Armadas foram formuladas nos anos 90, em resposta às mudanças na geopolítica regional. O aumento das tensões entre a China e os EUA por causa da venda de armamentos a Taiwan levou Pequim a investir maciçamente na modernização da defesa, em especial na tecnologia militar.

Além da intimidação pelas armas, a China também vem usando sua força econômica durante crises com vizinhos.

Em maio, os produtores de bananas filipinos afirmaram que Pequim deixou de comprar US$ 34 milhões. O Japão também deve sofrer prejuízos, em meio a paralisações de fábricas instaladas na China devido aos protestos e ao boicote de marcas japonesas.

Para Aaron Friedberg, professor de relações internacionais em Princeton (EUA), o aumento da assertividade chinesa impõe um grande desafio para Washington.

"O fracasso em responder adequadamente à escalada de Pequim pode minar a credibilidade das garantias de segurança que Washington estende aos seus aliados asiáticos", escreveu Friedberg na revista "Foreign Affairs".

"Na falta de sinais fortes de comprometimento contínuo e decidido dos EUA, seus amigos podem temer cada vez mais o abandono, talvez eventualmente desanimando e sucumbindo às tentações do apaziguamento."

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