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Chávez corteja pobres com 'suco socialista'

Para baixar preços, presidente, que concorre à reeleição,estatizou empresas e ampliou o leque de atuação do Estado

Bancos e até shoppings passaram ao controle estatal; candidato rival, Henrique Capriles evitar tocar no assunto

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Na fábrica Lácteos Los Andes, expropriada pelo governo Hugo Chávez em 2008, nem as frutas escapam da retórica nacionalista.

"Lácteos Los Andes são sabores da nossa terra, é #FrutaSoberana maracujá, manga, goiaba e mais", anuncia o Twitter oficial.

Na distribuidora da empresa em Caracas, o porta-voz do sindicato da unidade, Julio Molina, 34, explica: "Antes não trabalhávamos com frutas nacionais, só com polpa importada. Tudo mudou muito por aqui", diz. Ele afirma que, desde a expropriação, acabou a divisão entre operários e gerência.

A marca, que leva coraçãozinho com a inscrição "hecho en socialismo" (feito no socialismo) também presente em chocolates e café estatais, ganha espaço em prateleiras de supermercados e é dos poucos exemplos em que uma empresa expropriada elevou a produção, ainda que o lucro tenha caído 23%.

Ao lado dos mercadinhos e supermercados estatais que vendem a preços subsidiados, são uma arma usada por Chávez para conquistar bolsos e votos na eleição presidencial deste domingo.

"A qualidade é excelente, e os preços não têm comparação", diz Zulena Alzauro, 52, com sucos e leites da marca numa sacola. Ela cruzou a cidade ontem para fazer compras num supermercado inaugurado por Chávez em plena campanha, em agosto. "Achei tudo hoje!", afirma.

Nem sempre é assim. Para achar leite, açúcar ou azeite nos mercadinhos subsidiados é preciso acordar às 5h, conta Zulena, que não reclama. "Chávez não tem como melhorar. Ele é perfeito."

Outros casos de nacionalizações em que as empresas seguiram operantes e cresceram são o Banco de Venezuela -o maior do país comprado do Santander em 2008- e a telefônica Cantv.

É um universo ínfimo dada a miríade de nacionalizações que Chávez patrocinou a partir de 2007, sem poupar nem joalherias nem shoppings. Foram 499 empresas no setor industrial em 2011, segundo o jornal "El Mundo".

Até economistas ligados ao governo, como o ex-ministro das Indústrias Básicas, Victor Álvarez, apontam problemas: o governo não tem quadros para comandar essa imensidão de negócios.

Chávez foi confrontado pelo fracasso de ao menos um setor nacionalizado durante a campanha. Em visita a Cidade Guayana em agosto, sede das siderúrgicas nacionalizadas que atravessam crise de produção, ouviu gritos de "Justiça!" em transmissão ao vivo pela TV, logo cortada.

O candidato da oposição, Henrique Capriles, sai pela tangente na campanha quando esse é o tema. Promete manter o setor siderúrgico nas mãos do Estado e diz que não haverá demissões.

Contra o "hecho en socialismo" lançou o "hecho en Venezuela". Garante que diminuirá importações, em recado ao Brasil, terceiro maior fornecedor dos anos Chávez.

FILHOS DA REVOLUÇÃO

Molina, da Lácteos Los Andes, diz que vai votar em Chávez no domingo em nome do país que ele quer para seus "três filhos 'hechos en revolución'", que nasceram já nos anos Chávez. Não "hechos en socialismo"? "Para o socialismo ainda falta uma luta grande e bonita", diz.

A batalha não está 100% decidida nem na distribuidora. Ao sair do trabalho ontem, o auxiliar Alberto José, 21, abriu o sorriso de aparelho ortodôntico multicolorido quando questionado quem quer que seja presidente. "Estou em dúvida. Tenho até domingo para pensar."

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