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"Reformas representam virada na economia da Índia"

Economista Pratap Mehta diz que abertura a investimento estrangeiro no varejo e reestruturação do setor elétrico tiram governo de 'paralisia'

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

As reformas recentes anunciadas pelo governo indiano, de abertura do varejo e das linhas aéreas para investimento estrangeiro e restruturação do setor elétrico, são uma virada na economia do país.

Essa é a opinião de Pratap Mehta, presidente do Centre for Policy Research, um dos principais centros de pesquisas indianos.

Nos últimos dois anos, a economia indiana, antes uma estrela dos emergentes, tem patinado. O crescimento do PIB, que chegou a 10,8% em 2010, deve ficar em 4,9% este ano, segundo as novas estimativas do FMI.

Mehta veio para o Brasil participar de um seminário da Fundação iFHC, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na semana passada. Abaixo, trechos da entrevista concedida à Folha.

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Folha - O que leva ao crescimento da classe média na Índia?
Pratap Mehta - O alto crescimento da economia é o maior responsável por isso. A Índia vinha crescendo 8% ao ano por cinco a seis anos, o que aumentou as oportunidades no setor privado.
Aumentou a arrecadação do governo, o que possibilitou implementar programas sociais. O maior é o Programa Nacional de Garantia de Emprego Rural, que garante dois meses de emprego por ano a pelo menos um membro de cada família indiana. Na prática, funciona como o Bolsa Família. Isso elevou os salários na área rural.

As reformas anunciadas pelo governo indiano vão entrar em vigor logo?
Várias dessas reformas não precisam de aprovação parlamentar, como a participação estrangeira no varejo. Cada Estado pode decidir se vai autorizar a entrada dos investidores estrangeiros no varejo. Isso reduziu um pouco a resistência.
Uma segunda área de reformas, que para mim é a mais importante, é a restruturação do setor elétrico, que é hoje a maior preocupação da Índia. O setor acumula prejuízos e tem uma dívida astronômica.
Os políticos resistem em cobrar pela eletricidade de seus eleitores, particularmente área rural, impõem tarifas baixas. As empresas têm grandes prejuízos na distribuição, porque estão sob pressão de tarifas controladas.
Uma terceira categoria de reformas é a abertura dos setores de seguros e pensões para o investimento estrangeiro, que exigem mudanças na lei, então não devem entrar em vigor imediatamente.

O sr. está otimista em relação a essa mudanças?
Não acho que a abertura do varejo vai ser a panaceia para a economia, mas manda a mensagem certa.
Nos últimos dois anos, os investidores estavam inquietos com a paralisia do governo. Havia essa percepção de que o governo não tomava nenhuma decisão, e até as empresas indianas estavam sentadas em cima do dinheiro e tinham dificuldades de decidir onde investir.
As reformas foram uma virada, porque as pessoas começavam a pensar que o governo estava complacente com a taxa de crescimento. Quando crescemos 5,5% ou 6%, o ano é considerado péssimo. A questão é que podemos crescer 8%. Vai levar ainda de um ano e meio a dois anos para o crescimento recuperar o impulso.

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