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MONTANHA RUSSA
Presidente russo põe em seu lugar o premiê Putin para antecipar eleições e evitar devassa anticorrupção
De surpresa, Ieltsin renuncia
Associated Press
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Após a sua renúncia, o ex-presidente Boris Ieltsin cumprimenta Vladimir Putin (primeiro à esq.), que assumiu interinamente o cargo |
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial a Moscou
O presidente Boris Nicolaievitch Ieltsin, 68, surpreendeu ontem os russos ao anunciar, em
discurso transmitido pela TV estatal ORT, que renunciava à Presidência do país. Seu mandato terminaria em agosto de 2000.
"Estou indo antes do tempo estabelecido", afirmou Ieltsin, que
foi substituído no cargo pelo premiê Vladimir Putin, que fica no
cargo pelo menos até a realização
das eleições presidenciais. Inicialmente programadas para junho,
elas deverão acontecer, como prevê a Constituição em caso de renúncia presidencial, dentro de 90
dias. O mais provável é que sejam
realizadas em 26 de março.
O presidente em exercício, herdeiro escolhido por Ieltsin, é
apontado como favorito para
vencer as eleições.
Ieltsin, eleito em 1991, época em
que a Rússia ainda era parte da
União Soviética, enfrenta, desde
1995 -quando passou duas semanas hospitalizado com problemas cardíacos e de circulação-,
sérios problemas de saúde.
Mas não são só os problemas de
saúde que o preocupam. Se não fizer o sucessor em 2000, corre o
risco de ver seu governo, com
acusações de corrupção, sofrer
verdadeira devassa. Putin assinou
ontem decreto que proporciona
imunidade a Ieltsin e à sua família
em relação a eventuais processos
por corrupção.
A escolha da data para a renúncia -véspera do ano 2000- não
foi casual. Ieltsin disse em seu discurso que o objetivo é fazer a Rússia iniciar uma nova era com "novos líderes políticos". Ele não
anunciou o que pretende fazer no
futuro.
Ontem mesmo Ieltsin transferiu
todas as suas funções para o premiê e presidente em exercício, inclusive o controle sobre o arsenal
nuclear -o segundo maior do
mundo, atrás apenas do dos EUA.
No discurso em que anunciou
seu afastamento do cargo, Ieltsin
chegou a pedir desculpas por algumas de suas ações enquanto
presidente, referindo-se, em especial, à forte crise econômica que
atingiu o país em 1998.
Segundo analistas políticos locais, a renúncia de Ieltsin vai ajudar Putin na campanha presidencial. Afinal, acreditam eles, quanto mais cedo forem as eleições,
maiores serão as chances do premiê. Arquiteto da investida na
contra os separatistas muçulmanos da Tchetchênia, Putin tem altos índices de popularidade.
Desconhecido em agosto, quando foi nomeado por Ieltsin para o
lugar de Ievguêni Primakov, Putin fez o ieltsinismo renascer. O
apoio dos russos à ação na Tchetchênia aumentou o poder dos governistas na Duma (câmara baixa
do Parlamento) após a realização
das eleições em dezembro.
Putin viajou à Tchetchênia hoje
e entregou medalhas a soldados
envolvidos na ofensiva anti-separatismo.
Nos últimos dias, no entanto, o
premiê tem recebido críticas da
oposição, já que o governo prometera dominar Grozni, a capital
tchetchena, até ontem.
Como isso não aconteceu, políticos contrários à ofensiva militar
começam a dizer que as baixas no
exército russo serão maiores do
que o esperado.
Yuri Lujkov, prefeito de Moscou e adversário de Ieltsin, afirmou que a tomada de Grozni será
mais complicada do que se esperava. "Os tchetchenos conhecem
muito bem a região e terão vantagem nos últimos confrontos."
A festa de virada do ano em
Moscou teve a renúncia de Ieltsin
como tema de conversas e como
palco principal, a Praça Vermelha, que esteve completamente lotada. Uma multidão não parava
de dançar. Faltando cerca de 15
minutos para a meia-noite, soldados russos tiveram de criar uma
barreira diante da praça para impedir a entrada de mais gente.
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