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Leia a íntegra da renúncia
Leia a seguir o discurso de renúncia de Boris
Ieltsin
Caros russos,
Resta pouco tempo antes de uma data mágica
em nossa história. O ano 2000 está se aproximando. Um novo século, um novo milênio.
Seremos todos testados nesta data. Nós ponderávamos, desde a infância, quando fôssemos
crescidos, com que idade estaríamos em 2000,
com que idade estariam as nossas mães e com
que idade estariam as nossas crianças. Até certo
ponto, é comum o novo ano parecer tão distante.
Agora esse dia está aí.
Queridos amigos! Meus queridos!
Hoje eu estou me dirigindo a vocês para a última saudação ao novo ano. Mas isso não é tudo.
Hoje eu estou me dirigindo a vocês pela última
vez como presidente da Rússia.
Eu tomei essa decisão.
Ponderei longa e duramente sobre isso. Hoje,
no último dia de despedida do século, eu estou
resignado.
Tenho ouvido por muito tempo que "Ieltsin
se manterá no poder a qualquer custo, ele não o
entregará a ninguém". Isso é mentira.
Mas esse não é o ponto. Eu sempre tenho dito
que eu não divergiria nem um pouco da constituição. Essa eleição da Duma deveria alcançar os
termos estabelecidos pela Constituição. Isso foi
feito. E eu também estava esperando a eleição
presidencial tomar seu lugar no tempo (junho de
2000). Isso era muito importante para a Rússia.
Nós estamos criando um precedente muito importante para uma civilizada e voluntária transferência de poder, poder de um presidente da
Rússia para outro, recém-eleito.
E, todavia, eu tomei uma decisão diferente.
Estou partindo. Estou indo antes do tempo estabelecido.
Eu compreendi que era necessário fazer isso
para mim mesmo. A Rússia precisa entrar no novo milênio com novos líderes políticos, com novos rostos, com novas pessoas inteligentes, fortes
e enérgicas.
E nós já estivemos no poder por muitos anos,
nós devemos ir.
Vendo com que esperança e fé as pessoas votaram na eleição da Duma em uma nova geração
de políticos, eu compreendi que completei o ato
mais importante de minha vida. A Rússia nunca
mais retornará ao passado. Agora, a Rússia sempre seguirá em frente.
E eu não deveria interferir na marcha natural
da história. Como manter o poder por mais meio
ano, quando o país tem um homem forte que é
merecedor de ser presidente e no qual praticamente toda a Rússia aposta as suas esperanças
para o futuro? Por que eu deveria atrapalhá-lo?
Por que esperar mais meio ano? Não, isso não é
para mim. Isso simplesmente não é minha característica.
Hoje, este dia é tão extraordinariamente importante para mim que eu quero dizer algumas
palavras pessoais além do normal.
Eu quero pedir o perdão de vocês.
Pelo fato de muitos dos sonhos compartilhados não terem se tornado realidade. E pelo fato
de parecer que nós voltaríamos a algo tormentoso. Eu peço perdão por não fazer jus a algumas
esperanças desse povo que acreditava que em
um golpe, de uma só vez, nós poderíamos passar
de um passado cinza, estagnado e totalitário para
um luminoso, rico e civilizado futuro. Eu mesmo
acreditava nisso, que nós poderíamos superar
tudo de uma só vez.
Eu deixei de ser ingênuo em alguns aspectos.
Em alguns lugares, os problemas parecem estar
complicados demais. Nós forçamos nossa passagem por meio de enganos, por meio de falhas.
Muitas pessoas nesses tempos difíceis experimentaram o colapso.
Mas eu quero que vocês saibam. Eu nunca
disse isso. Hoje é importante eu dizer isso a vocês. A dor de cada um de vocês fez surgir a dor
em mim, no meu coração. Noites sem dormir,
grandes preocupações sobre o que precisava ser
feito, sobre como as pessoas poderiam viver
mais facilmente e melhor. Eu não tinha nenhum
dever mais importante.
Estou partindo. Fiz tudo que podia, não de
acordo com a minha vontade, mas com base em
todos os problemas ocorridos. A nova geração
está me substituindo, a geração daqueles que podem fazer mais e melhor.
Em acordo com a Constituição, diante da qual
eu me resigno, eu assinei um decreto passando
os deveres da presidência da Rússia para o primeiro-ministro, Vladimir Vladimirovich Putin.
Por três meses, novamente de acordo com a
Constituição, ele será o líder do Estado. E em três
meses haverá a eleição do novo presidente.
Eu sempre estive certo sobre a surpreendente
prudência dos russos. Por isso não tenho dúvidas sobre o que vocês farão no final de março de
2000.
Junto a essa despedida, eu quero dizer a cada
um de vocês: sejam felizes. Vocês merecem a felicidade. Vocês merecem felicidade e tranquilidade.
Feliz Ano Novo. Feliz novo século, meus queridos.
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