São Paulo, Sábado, 01 de Janeiro de 2000


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APOCALIPSE
Extremistas ameaçavam se matar, crendo que, assim, apressariam a volta de Jesus; polícia mantém prontidão
Ameaça de suicídios não se cumpre em Jerusalém

Reuters
Grupo de religiosos cristãos carregam cruz de madeira iluminada com velas ao iniciar procissão rumo ao Monte das Oliveiras, na noite de réveillon em Israel


PAULO DANIEL FARAH
enviado especial a Jerusalém

Não se registrou nenhum suicídio em Jerusalém até as 5h de hoje (1h em Brasília). Há temores de que cristãos extremistas, que acreditam que suicídios coletivos podem "adiantar" o retorno de Jesus Cristo, se matem.
Cerca de 12 mil policiais vão ficar em alerta durante o final de semana. A frustração com o não-cumprimento de expectativas cristãs durante a chegada do ano 2000 poderia provocar atos de violência e atentados.
Milhares de religiosos foram a Armageddon, local da batalha final entre o bem e o mal, e ao Monte das Oliveiras, onde um norte-americano discursava sobre a volta de Cristo. "Leiam o Apocalipse. Jesus aparecerá em poucos minutos", dizia até a 0h, quando teve de rever os cálculos.
"Todos querem uma vida melhor. Se o Messias ainda vier, será ótimo", afirmou o administrador Sufian Abu Ghannam.
O principal hospital psiquiátrico de Jerusalém reservou ala para estrangeiros que desenvolvessem a síndrome de Jerusalém, em que a pessoa pensa ser Cristo, um profeta ou um santo. Em 99, houve 60 casos, o dobro de 98.
Não houve festa pública em Israel, apenas em áreas sob administração palestina, porque o novo ano chegou durante o shabat (dia de descanso judaico).
Hotéis e restaurantes judaicos não comemoraram a data. Eles devem seguir as orientações do rabinato para obter um certificado de que seguem a lei judaica. Ao rejeitar as regras, podem perder clientes judeus religiosos.
Na parte antiga de Jerusalém, hotéis cujos donos são árabes (muçulmanos e cristãos) comemoraram o réveillon com shows de música ao vivo. Essa era a única área da cidade sagrada que anunciava o advento de 2000, com cartazes e luminosos.
A maior festa da cidade, que aconteceria no estádio Teddy e que esperava 5.000 participantes, foi cancelada pela prefeitura.
Sem opção, muitos israelenses assistiram, em casa, às comemorações no restante do mundo.
"É bom ver as festividades pela TV porque, depois de assistir a uma transmissão ao vivo da antiga cidade de Petra (Jordânia) e curtir os fogos de artifício em Londres, é possível cruzar o Atlântico rumo a Nova York", disse o escritor Barry Davis.
A cidade de Belém passou cinco filmes de diretores palestinos como Elie Suleiman, Subhi Zbeidi e Rachid Mashharawi das 23h às 23h45. A cantora Amina Alaoui inaugurou o novo ano com a canção "Ode de Ibn Arabi". Um show de luzes, fogos de artifício e 2.000 pombas enfeitaram o céu a partir da meia-noite.
Muçulmanos e judeus comemoraram datas importantes ontem, embora a chegada do ano 2000 não tenha nenhuma relevância especial para eles, que adotam calendários próprios.
Ontem foi a última sexta-feira do Ramadã (mês sagrado islâmico) e shabat, dia sagrado judaico.
Cerca de 500 mil muçulmanos foram à mesquita de Al Aqsa, no Monte do Templo (ou Santuário Nobre, para os árabes). Eles pediram chuva a Deus, numa oração, pois a região vem enfrentando uma seca nos últimos meses.
No Ramadã, os muçulmanos jejuam e adotam a abstinência sexual da alvorada ao pôr-do-sol.
Ao menos 10 mil judeus, segundo a polícia, rezaram no Muro das Lamentações no final da tarde. A chegada do novo século ocorreu durante o shabat, que começa na sexta à tarde e vai até o sábado. A última vez que isso aconteceu foi em 1200.
Não houve transporte público isralense (apenas de empresas árabes) em Jerusalém ontem, e várias ruas que atravessam bairros religiosos, como o Mea Sharim, ficaram fechadas.
O rabinato permitiu, porém, que judeus trabalhassem em serviços de infra-estrutura, como água e eletricidade, no shabat para evitar problemas relacionados ao bug do ano 2000, pois isso é considerado "pikuah nefesh" (preservação da vida humana).


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