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São Paulo, sábado, 01 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Presidente diz, porém, já ter autoridade para agir, após encontro com Blair, que defendeu uma nova resolução

Bush admite buscar resolução na ONU

Chris Helgren/Reuters
Militar dos EUA cochila sobre veículo blindado no deserto do norte do Kuait, onde participa de treinamento para o caso de guerra


DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, admitiu ontem a possibilidade de seu país buscar nova resolução no Conselho de Segurança (CS) da ONU antes de lançar uma ofensiva contra o Iraque.
"Se a ONU decidir emitir uma segunda resolução, ela seria bem-vinda, se for um sinal de que temos a intenção de desarmar Saddam Hussein", declarou Bush, em entrevista conjunta com o premiê britânico, Tony Blair, após encontro na Casa Branca.
O presidente americano, porém, disse que a resolução 1441, aprovada em novembro, já delega autoridade para agir por meio da força caso Bagdá se negue a cooperar com o desarmamento.
Blair afirmou acreditar que Saddam segue violando resoluções da ONU e que a resolução 1441 previa "sérias consequências" se o Iraque não cooperasse.
Antes do encontro -apelidado de "conselho de guerra" por reunir os dois principais defensores de um ação armada-, Blair havia defendido uma saída negociada para a crise e a adoção de uma nova resolução estabelecendo um prazo para Bagdá se desarmar ou enfrentar uma ação militar.
"É correto aprovarmos uma segunda resolução porque essa é uma forma de dizer que a comunidade internacional não vai se desviar dessa questão", declarou Blair à rede CNN.
As palavras de Blair foram interpretadas por analistas políticos como um sinal de que ele tentaria convencer Bush a continuar com o processo na ONU antes de optar unilateralmente pela guerra.
Após a reunião, Bush e Blair foram deliberadamente evasivos quando questionados sobre a necessidade de levar ao CS uma segunda resolução autorizando o uso da força.
À rede BBC, o premiê britânico afirmou que a resolução 1441, aprovada em novembro, previa que o CS se reuniria para discutir qualquer violação cometida pelo Iraque. Esse compromisso, argumentou, deve ser mantido.
"O que conta não é o meu ceticismo", disse Blair, após afirmar que tem certeza de que Saddam está violando resoluções da ONU e não aceitará se desarmar. "O que conta é que a integridade das Nações Unidas seja preservada."
Para conseguir a aprovação de uma segunda resolução contra o Iraque, Washington e Londres têm de convencer China, Rússia e França a apoiá-la. Esses três países, todos com direito a veto no CS, dizem desejar uma saída pacífica para a crise e defendem que seja dado mais tempo aos inspetores para que busquem as armas de destruição em massa de Saddam Hussein.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, disse ontem que os EUA vêm mantendo conversas sobre a viabilidade de aprovação da resolução na ONU. "Quanto mais forte for a união do mundo, mais pressão haverá sobre Saddam para que se desarme", afirmou. Ele acrescentou, porém, que Bush não hesitaria em atacar o Iraque sem o aval do CS, apoiado por uma "coalizão grande e crescente".
Blair estaria agindo com um olho nas pesquisas de opinião, que atestam a enorme impopularidade de uma guerra contra Bagdá sem uma autorização prévia de uso da força do CS.
Sondagem do instituto Gallup mostra que apenas 10% da população do Reino Unido apóia uma ofensiva unilateral dos EUA e de seus aliados. Com o aval da ONU, o índice de britânicos que concordariam com a guerra sobe para 39%. Nos EUA, Bush conta com maior apoio público (33%) para agir unilateralmente, enquanto 34% dos americanos preferem uma autorização da ONU.

Com agências internacionais


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